Notícias da Floresta - O choro do salgueiro e o ipê iluminado

Por Valdir Veiga - valdir.veiga@gmail.com
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
por Jornal A Voz da Serra

“Há várias substâncias naturais que poderiam estar sendo utilizadas, mas com o pouco investimento em pesquisas científicas que se faz no Brasil ainda são apenas promessas, não alcançam o mercado”

“...A suspirar cantava a coitadinha à sombra do salgueiro. Canto de dor coração lhe vinha: Oh salgueiro! salgueiro! Triste, ouvia-a o regato todo o dia: Oh salgueiro! salgueiro! O pranto a pedra dura amolecia…” Assim cantava Desdêmona apaixonada por Otelo, o mouro de Veneza, na peça homônima de William Shakespeare, quando as lágrimas do salgueiro branco lhe acudiam da dor de seu pranto.

Descobertas há mais de 2.500 anos, as potentes propriedades analgésicas da resina do salgueiro branco (Salix alba) a tornaram conhecida entre médicos, químicos e farmacêuticos. Os estudos desses profissionais levaram ao isolamento de uma substância ativa que, em homenagem ao nome botânico, foi chamada de salicilina. No estômago, esta substância se transforma em outra, mais ativa, que foi chamada então de ácido salicílico. Por muitos anos este ácido foi utilizado no tratamento de dores e reumatismos e também foi verificada sua ação na diminuição da agregação plaquetária. Um efeito colateral de sua acidez eram os problemas gástricos. Os estudos dos químicos procuraram diminuir estes efeitos fazendo uma transformação e produzindo o ácido acetilsalisílico, que foi comercializado com o nome Aspirina.

O conhecimento tradicional de milênios tem sido o ponto de partida para os estudos científicos na busca por novos fármacos. Muitos dos medicamentos mais utilizados são produtos naturais como foram originalmente produzidos por plantas ou micro-organismos ou substâncias que foram modificadas para serem mais ativas, com menos efeitos colaterais, absorção mais rápida e menos tóxicas. O taxol, potente antitumoral; e a digoxina, utilizada no tratamento de arritmias, são exemplos destas substâncias naturais.

O lapachol é outra dessas substâncias com atividade antitumoral potente, que poderia estar sendo utilizado, mas com o pouco investimento em pesquisas científicas que se faz no Brasil ainda é só uma promessa, não alcança o mercado. É produzido nas cascas das tabebuias, esses mesmos ipês amarelos e roxos que iluminam os caminhos daqueles que os conhecem, abrem sorrisos nos que os veem pela primeira vez, aquecem nossos corações, indicando a chegada da primavera. Um dia serão venerados pelas curas que produzem, cantados nas histórias de nosso povo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade