“Friburguenses de primeira linha, as Velloziaceae ficam mais fortes e belas a cada ano. Escalam as montanhas e embelezam ainda mais a região com suas flores arroxeadas”
Quando os primeiros homens brancos chegaram à região da Serra dos Órgãos, a beleza da vegetação e da geografia da Mata Atlântica de altitude chamou a atenção rapidamente. Entre as mais belas montanhas havia uma variedade imensa de espécies vegetais que parecia escalar os paredões verticais. Do outro lado destas montanhas, entre os desfiladeiros formados por rios sinuosos, uma ampla região era vislumbrada: a Fazenda do Morro Queimado. Distrito do então município de Cantagalo, foi para o Morro Queimado que os primeiros imigrantes suíços vieram, se instalaram e criaram gerações de friburguenses nos séculos que se seguiram.
Não foi à toa que a região recebera esse nome. Nos invernos frios e secos, a vegetação que sobe pelas pedras invariavelmente fica extremamente ressecada e sujeita à quase completa destruição pelo fogo à menor faísca de um raio. Já era assim desde aquela época em que aqui chegaram os primeiros colonos suíços.
O botânico francês Auguste Saint-Hilaire (1779-1853) foi um dos primeiros naturalistas a ter permissão para viajar livremente pelos territórios brasileiros, o que fez de 1816 a 1822. Entre centenas de espécies vegetais, Saint-Hilaire descreveu espécies da família Velloziaceae, conhecidas como Canela de Ema, no interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Muito bem adaptadas à região, estas espécies encontram-se fixadas a pedras e montanhas da Serra do Mar, com pouca ou nenhuma terra. Com esta característica, escalam as montanhas e embelezam ainda mais a região com suas flores arroxeadas. Quem caminha pelas trilhas que levam às Catarinas ou ao Morro da Cruz percebe os troncos escuros, já queimados por muitas vezes. Resistentes ao frio e ao calor, estas espécies possuem um bulbo próximo às raízes que é capaz de regenerar o tronco e formar novas folhas mesmo após serem totalmente queimadas.
No extremo frio que queima as matas inverno após inverno, nas dificuldades que assolam mesmo quem sobrevive sobre pedras, queimada após queimada, as Velloziaceae ficam mais fortes e belas a cada ano. Suas flores não deixam de se abrir. Seus aromas e encantos atraem todos os que por ela passam. Friburguenses de primeira linha.
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