“Há apenas 50 anos os avós eram pessoas muito marcadas pelo tempo, já senis, com grandes dificuldades de movimento e raciocínio. Hoje esta expectativa ultrapassa os 73 anos, ou seja, passar dos 70 anos é normal”
Há semanas tive a oportunidade de conviver por algumas horas com o pesquisador que foi meu mentor na vida científica. Comecei em seu laboratório em uma greve que coincidiu com um grande congresso da SBPC. Passava os dias na universidade sem muito a fazer e vendo alunos de todo o país, animados com suas pesquisas, com seus banners embaixo do braço, acabei animando de ir procurá-lo. Durante todo esse tempo, mesmo com o distanciamento respeitoso de quem tanto se admira, daquele grande cientista, nos mantivemos próximos, mantendo a amizade acesa.
Um amigo me viu passar com ele e disse: “Te vi com um senhorzinho ao lado”. Aquele comentário me pegou desprevenido. Por mais que a barba e os cabelos estivessem completamente embranquecidos, sua figura como um “senhorzinho” não fazia parte das imagens a que eu estava acostumado. Com uma voz de trovão e uma empatia capaz de absorver a atenção de grandes plateias, definitivamente a velhice no conceito clássico não se aplicava a ele. Na plenitude da vida, os “senhores” sexagenários atuais são parte de nosso maior patrimônio, experiência, maturidade e conhecimento personificados.
Há apenas 50 anos os avós eram pessoas muito marcadas pelo tempo, já senis, com grandes dificuldades de movimento e raciocínio. Era a época em que a vida mais dura se impunha a uma vida mais longa. Com a expectativa de vida de apenas 48 anos, alcançar a meia-idade na década de 1960 já era ser senil. Hoje esta expectativa ultrapassa os 73 anos, ou seja, passar dos 70 anos é normal.
Grande bênção essa que nos trouxeram as vacinas, os medicamentos, a evolução da agricultura e o fim das grandes guerras. Grandes populações atuais já viram oito, nove décadas se passarem por estas terras. Serão muitos mais nas próximas décadas. Seremos todos nós!
A senescência é o processo de envelhecimento lento de todo organismo vivo. Podemos envelhecer com uma boa senescência, com energia, sem senilidade, sem uma degeneração mais acelerada. A senescência é, portanto, o envelhecimento gradual, a parte boa de ficar velho. Afinal, só não fica velho quem morre antes!
Os nossos velhinhos de hoje são mais saudáveis. É fácil encontrá-los em meio aos bailes e corais, igrejas e caminhadas, em viagens ou iniciando um curso em uma universidade. A maior parte de nossa população será cada vez mais a mais velha e temos que nos preparar para isso. Há que se ter um plano B, algo para fazer quando a aposentadoria chegar, que praticar esportes desde cedo e exercitar o cérebro de diferentes formas. Mas, também, temos que ter espaços apropriados para sua integração social, calçadas que não se transformem em armadilhas da osteoporose.
Passar mais tempo com as pessoas mais velhas e mais queridas é uma dádiva da nossa era. Temos que aprender a ter mais tempo pra elas. Ficarão mais tempo por aqui, mas não pra sempre.
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