“Já é setembro e os perfumes das damas-da-noite são docemente percebidos, e não só pelos insetos polinizadores: um aroma que nos faz recordar das noites de primavera que
já vivemos”
Já é setembro e logo muito cedo nossa estrela mais próxima apaga todas as demais, surge no horizonte como uma bola de fogo, deixando tudo em volta em tons de laranja e amarelo, um belo amanhecer na Amazônia. Apesar de estar praticamente toda no hemisfério sul, na Amazônia o verão começa em julho, pois é relacionado à maior temperatura. Em setembro são comuns os dias com temperaturas acima de 35 graus. Quando chove não refresca, só aumenta a umidade e a sensação térmica atinge facilmente os 42 graus. O regime de chuvas na Amazônia não é tão diferente do sudeste do Brasil—chove entre novembro e abril. Em outubro as chuvas começam ainda tímidas a aparecer todos os dias, mas sempre rápidas. Em maio elas ainda caem várias vezes por semana, mas já começam a ficar mais espaçadas. A grande diferença é que com o fim das chuvas a temperatura começa a subir.
Com menos chuvas o nível dos rios diminui e aí aparecem centenas de praias de areias brancas e finas, paradisíacas, isoladas, banhadas por rios de águas frias e cristalinas. O paraíso é aqui—e em Maués, Santarém, São Gabriel da Cachoeira, Salinas, Barcelos... Praias únicas para passar os feriados e fins de semana. Mas, para quem não está em férias, a rotina do trabalho nessa temperatura é sempre diferente. O calor intenso parece nos dizer que o dia é o momento de descansar, de dormir. Trabalhar à noite, à brisa da floresta, parece muito mais lógico.
Escolher um ritmo noturno é comum, e não somente para os boêmios, mas também entre plantas e animais. Se há mais pássaros de dia é grande o risco para os insetos que resolvem voar à plena luz. Se é mais comum ter mariposas voando à noite, mais fácil será utilizá-las para polinizar as flores, e assim diversas espécies de plantas encontraram na mudança de ritmo uma saída para conseguir sobreviver florescendo e sendo fecundadas durante a noite. Mas fica muito difícil seduzir os insetos polinizadores com flores coloridas se não há como enxergá-las. Sem ver, sem o toque, à distância, que mensagem poderia ser utilizada pelas plantas para atrair estes insetos que não seja a visual, sem poder escrever cartas de amor ou cantar canções de paixão para este momento tão importante para a perpetuação da espécie?
Quem passeia entre jasmins-manga, com suas flores brancas e rosas; ou entre jasmins, com suas belas flores brancas; sabe a resposta. Ao cair das noites deste início da primavera, os perfumes das damas-da-noite são docemente percebidos, e não só pelos insetos polinizadores. Todos que caminham próximo delas percebem a mensagem suave que a canção química das substâncias desse bouquet envia: um aroma que inebria, envolve e atrai, e nos faz recordar das noites de primavera que já vivemos.
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