“Os derivados de petróleo não irão mais acabar tão cedo, nem nos próximos 300 anos. Os vegetais que plantamos são os combustíveis que mantêm os humanos e os animais que os alimentam”
É moda por aqui, já dura três décadas, mas um modismo bom, que tem uma cara bem brasileira. O uso de biocombustíveis tem sido estimulado no mundo inteiro e o Brasil foi um pioneiro no desenvolvimento de álcool combustível a partir cana-de-açúcar. Nos EUA e na Europa já são usados outros biocombustíveis há muitas décadas, mas de outras fontes.
Só pra entender um pouco da química e da história destes combustíveis: Existem dois tipos de combustíveis principais para uso da população: os de veículos leves, como carros e motos, que usam gasolina, gás natural ou álcool; e os dos veículos mais pesados, como caminhões e ônibus, que usam diesel ou biodiesel.
Foi lá pelos últimos anos do século XIX que o engenheiro alemão Rudolf Diesel desenvolveu um motor a combustão interna que era movido com óleo de amendoim, e que levou seu nome. O sucesso foi tão grande que logo o volume de combustível necessário para abastecer os veículos inviabilizou o uso de óleos vegetais e derivados, e os subprodutos do petróleo foram muito bem-vindos até os anos 70 do século passado. Com o aumento da poluição, a alta dos preços do petróleo e o risco de ele acabar em 30 anos, outros combustíveis foram desenvolvidos para uso em larga escala. Para substituir o óleo diesel foi produzido um derivado de gorduras vegetais e animais, chamado de biodiesel. Melhor que o óleo vegetal utilizado por Diesel, este biodiesel tem melhorias químicas que o tornam bem compatível com os motores pesados atuais, como os que movimentam caminhões, trens e aviões. Ele é produzido no Brasil a partir dos óleos de mamona, dendê e soja, mas principalmente com este último. Também é produzido usando gordura animal, como os resíduos de gordura bovina dos frigoríficos. O biodiesel que se compra hoje nos postos de combustíveis é o chamado B5, tem 5% de biodiesel e 95% do diesel de petróleo. Até 2015 o país deve utilizar o B20, com 20% de biodiesel nessa mistura. Na Europa, por exemplo, em vários países já se utiliza há tempos o chamado B100, puro biodiesel.
Nos motores dos veículos leves as alternativas para a gasolina são o etanol e o gás natural, de que também temos reservas. As fontes para se obter etanol são muitas. No futuro qualquer produto vegetal que tenha celulose será utilizado, mas hoje só existe tecnologia para produzi-lo a partir de amido e de açúcar de cana. Nos dois casos, e também para a produção de biodiesel, há conflitos importantes a serem observados. Quanto maior a pressão por aumentar a área de plantações, menor a área de florestas. Quanto maior a produção de biocombustíveis, menor a de alimentos (que ficam mais caros!), mas menor a poluição, uma vez que os biocombustíveis são renováveis e menos poluentes. Nos EUA, por exemplo, o etanol é produzido a partir do milho, e este tem aumentado de preço. Na Europa a principal fonte é a beterraba, mas a área disponível para plantações é muito pequena.
A posição brasileira é privilegiada, estamos entre os líderes mundiais na produção e na tecnologia de biocombustíveis. Devemos isso não somente aos fatores climáticos e geográficos, mas também à excelência de nossa ciência gerada nas pesquisas da Embrapa com soja, e da Esalqui, com etanol.
Os derivados de petróleo não irão mais acabar tão cedo, nem nos próximos 300 anos, em função das grandes reservas de óleo e principalmente de gás que foram descobertas, como no pré-sal brasileiro, por exemplo. Os vegetais que plantamos são os combustíveis que mantêm os humanos e os animais que os alimentam. Se iremos priorizar nossas plantações para a produção de alimentos a fim de nos nutrir ou nos movimentar será uma decisão que as novas gerações terão que tomar.
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