Notas do Repórter - 3 de março

quarta-feira, 03 de março de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Brasília, cinquenta anos...

Reis de Souza

Em seus cinquenta anos, Brasília conquistou, desde os primórdios, em 1960, conceitos que permeavam do luxo ao deslumbramento, do desperdício ao esbanjamento e da aventura à corrupção. Tendo contra a sua criação praticamente toda a opinião pública nacional, capitaneada pela grande imprensa, sediada no eixo Rio-São Paulo, a previsão mais corriqueira sobre a capital que o presidente Juscelino Kubtschek queria implantar no Cerrado goiano é que seria terrível malogro que comprometeria a economia brasileira por muitas décadas. A prevenção contra Brasília partia de todos os setores, notadamente da classe política – deputados federais e senadores – acostumados às praias cariocas e à movimentada vida social (e noturna) do Rio de Janeiro que então abrigava os poderes da República. Com tantos declarados adversários a capital se desenhava como o capricho de um irresponsável, JK e no futurismo de um arquiteto comunista, arrojado e criativo, chamado Oscar Niemeyer, único protagonista de realce da epopeia ainda vivo.

Os servidores públicos que seriam transferidos ex officio para o Planalto Central esperneavam e era necessário suborná-los com diárias, pagamentos dobrados, isenção de custos, gratuidades e outras benesses incorporadas aos salários. E mesmo assim os ‘selecionados’ relutavam e lançavam mão de vários expedientes para procrastinar o desterro. Com tais características, de repudiada e vista como ameaça até a certeza de um fracasso munumental, todos os dias lembrado nas páginas dos jornais, nos programas de rádio e de televisão, Brasília reuniu todas as condições para ser o destino de levas de aventureiros, foragidos, perseguidos, fracassados, excluídos e dos que precisavam de mais uma oportunidade, principalmente das regiões Norte e Nordeste do país. Com esta massa de desajustados, insatisfeitos na vida, a capital despontou como lugar ideal para fazer fortuna fácil e esquecer o passado.

Neste meio século de sua existência Brasília não tem mais como surpreender o país em termos de corrupção e os vários governos deixaram, todos, suas marcas indeléveis na crônica citadina, alguns até hilários, como os mais recentes de propinas escondidas em meias e cuecas, e um governador, fato inédito, atrás das grades, motivo até de chanchadas carnavalescas. A cidade não deu errado. O sonho de Juscelino tornou-se uma realidade progressista e saudável, mas os que viabilizaram o processo civilizatório vieram, sempre, imbuídos dos princípios que nortearam sua função de lugar e de se fazer fortuna fácil e rapidamente. E o pior é que a maioria conseguiu...

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