Brasília, cinquenta anos...
Reis de Souza
Em seus cinquenta anos, Brasília conquistou, desde os primórdios, em 1960, conceitos que permeavam do luxo ao deslumbramento, do desperdício ao esbanjamento e da aventura à corrupção. Tendo contra a sua criação praticamente toda a opinião pública nacional, capitaneada pela grande imprensa, sediada no eixo Rio-São Paulo, a previsão mais corriqueira sobre a capital que o presidente Juscelino Kubtschek queria implantar no Cerrado goiano é que seria terrível malogro que comprometeria a economia brasileira por muitas décadas. A prevenção contra Brasília partia de todos os setores, notadamente da classe política – deputados federais e senadores – acostumados às praias cariocas e à movimentada vida social (e noturna) do Rio de Janeiro que então abrigava os poderes da República. Com tantos declarados adversários a capital se desenhava como o capricho de um irresponsável, JK e no futurismo de um arquiteto comunista, arrojado e criativo, chamado Oscar Niemeyer, único protagonista de realce da epopeia ainda vivo.
Os servidores públicos que seriam transferidos ex officio para o Planalto Central esperneavam e era necessário suborná-los com diárias, pagamentos dobrados, isenção de custos, gratuidades e outras benesses incorporadas aos salários. E mesmo assim os ‘selecionados’ relutavam e lançavam mão de vários expedientes para procrastinar o desterro. Com tais características, de repudiada e vista como ameaça até a certeza de um fracasso munumental, todos os dias lembrado nas páginas dos jornais, nos programas de rádio e de televisão, Brasília reuniu todas as condições para ser o destino de levas de aventureiros, foragidos, perseguidos, fracassados, excluídos e dos que precisavam de mais uma oportunidade, principalmente das regiões Norte e Nordeste do país. Com esta massa de desajustados, insatisfeitos na vida, a capital despontou como lugar ideal para fazer fortuna fácil e esquecer o passado.
Neste meio século de sua existência Brasília não tem mais como surpreender o país em termos de corrupção e os vários governos deixaram, todos, suas marcas indeléveis na crônica citadina, alguns até hilários, como os mais recentes de propinas escondidas em meias e cuecas, e um governador, fato inédito, atrás das grades, motivo até de chanchadas carnavalescas. A cidade não deu errado. O sonho de Juscelino tornou-se uma realidade progressista e saudável, mas os que viabilizaram o processo civilizatório vieram, sempre, imbuídos dos princípios que nortearam sua função de lugar e de se fazer fortuna fácil e rapidamente. E o pior é que a maioria conseguiu...
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