O canudo de jornalista
São 450 os cursos de Comunicação Social (jornalismo) existentes e em funcionamento no país que colocam à disposição do mercado cerca de 15.000 (quinze mil) profissionais na praça, 80% deles sem a mais remota possibilidade de absorção pelas empresas jornalísticas, assessorias de imprensa e serviço público. Os dois primeiros setores devido ao fato da canhestra formação, deficiente mesmo, que não é exclusividade em nossa ainda incipiente formação superior veja-se o caso de advogados, professores para citar apenas os que causam mais consternação e hilaridade. O estágio para os recém-formados jornalistas foi substituído pelo jornal-laboratório, feito na faculdade, na verdade um boletim de alunos sem a competividade profissional reinante na área e sem a cobrança de calejados secretários de redação e redatores-chefes. Exigir que este material sofrivelmente formado nos quatro anos do curso se transforme, como em passe de mágica, em competentes comunicadores, em formadores de opinião ou em balizadores sociais é tarefa hercúlea. Os egressos de faculdades começam, como desde os primórdios do jornalismo, na reportagem geral ou de polícia, onde vão tomar o primeiro contato com a sociedade em seus ângulos bons e maus, elaborar textos que invariavelmente serão podados pelo copidesque, enxugados de prolixidade ou insuficiência vocabular e adaptados à verdadeira fórmula jornalística, consubstanciada nas célebres perguntas: O Que? Quando? Quem? Como? Por quê?. Fora deste padrão não é jornalismo. É ficção literária, prosa ou poesia...
O debate sobre a não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista determinada pelo Supremo Tribunal Federal trouxe à tona um dos aspectos mais importantes, o da reserva de mercado e a atribuição da comunicação apenas a uma casta o que, em princípio colide com dispositivos constitucionais de liberdade de pensamento e expressão. E este mesmo debate concluiu que os detentores de curso superior, tanto faz se de jornalismo ou de qualquer outra área, serão sempre, os selecionados para a função de transformar em palavras e os analisar os fatos políticos, econômicos e sociais pelas empresas jornalísticas e aí vão emissoras de rádio e tv, jornais e revistas, agências de notícias e editoras.
Os cursos continuarão a formar profissionais que nunca serão repórteres ou redatores como vem acontecendo desde sua instituição já que a seleção natural será a determinante. O jornalismo tem características especiais de forma e conteúdo e não basta um canudo (como se dizia na minha fase estudantil) para improvisar um grande profissional. É preciso muito mais...
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