Notas de um moleque desocupado - 6 de dezembro

Por: Daniel Frazão
sexta-feira, 05 de dezembro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Verão no país tropical. O sol se desarma pela manhã e o céu desaba de tarde. Matizes de azul se tornam chumbo. E cada pequena MERDACITY, cada grande BOSTÓPOLIS de infra-estrutura precária desse país se depara com todo o lixo regurgitado pelos bueiros entupidos e buracos mal tapados das esquinas. Doenças boiando pelas poças. Ratos nadando em jangadas de palitos de picolé. Cheiro de coliformes fecais pairando no ar. E lá se vai a maré de lixo rua abaixo. As calçadas repletas de lan houses (repletas de pré-adolescentes) e de igrejas construídas às pressas.

Dengue para a cidade grande, leptospirose para a cidadezinha.

No sul, as cidades afundam com as chuvas. É claro que não devia acontecer. Mas acontece. Aqui acontece. Não há estrutura no esqueleto das cidades. Não há estrutura no cérebro dos homens. Casas naufragam e gente de mão abanando sai boiando até o abrigo mais próximo. Multidões de pobres coitados se espremem por dois ou três anos. Detesto essa expressão, pobres coitados.

No norte, a terra tosta ao sol e velhos encouraçados catam grãos de milho no barro.

Dizem que o Brasil é um país abençoado. Besteira. Para mim, não há lugares abençoados no mundo. Nenhum país abençoado. Nenhuma cidade abençoada. Nenhum homem abençoado. Hoje, não.

A África é dizimada pela colonização e pela Aids, que no fundo são lados de uma mesma moeda. O Oriente explode guerras santas a cada fim de semana. Os EUA definham em sua própria megalomania ignorante. A Europa mofa isolada num passado de glória, como a Família Real. O Brasil simplesmente não funciona. Passe para o próximo. Esqueci de alguém? Melhor assim.

E a turba se divide em dois gumes. De um lado, a camada de naufragados que tosta nos becos sem saída. Do outro, a turminha do beautiful people vivendo como se num berço de bebezinhos mimados e protegidos.

Prefiro escrever. E trabalhar. E ler. E escutar Presley e Cash. E assistir a Magnum. Presley e Cash são bons de verdade. Para quem não sabe, Magnum é uma série sobre um detetive de bigode, camisas havaianas e Ferrari vermelha de uma época em que os galãs não eram andróginos. Lá fora, o mundo continua a apodrecer. Como sempre apodreceu.

É por essa e mais outras que jamais teremos provas de que há vida extraterrestre. Nave alguma aterrissará na Terra... NUNCA. Escute bem, NUNCA. Para quê? Seria como viajar para Valão do Barro nas férias.

Sim, moro num país tropical. E daí? Acredite nesses slogans de auto-estrada e logo estará encrencado. Mais do que já estamos.

Fatalista? Porra nenhuma. Sou o cara mais otimista que existe. Então, um ótimo verão pra você, meu amigo. Encontro você por aí, nos dias de chuva. E SE ESTÁ DE GUARDA-CHUVA, SAIA DA MARQUISE!

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