Eu estava num trem TGV, veloz e reluzente, em algum ponto entre a Suíça e a França.
Fazia hora, procurando desesperadamente por alguma coisa que matasse o tempo. Estava cansado de casas coloniais, montanhas nevadas e colinas verdejantes que zuniam do lado de fora da janela.
A bateria do MP4 tinha acabado. Nada de Johnny Cash, Elvis, Beethoven, Chopin e Jerry Lee Lewis por um bom tempo. Eu vivenciava um legítimo e sacal tédio europeu sobre trilhos.
Sem outra opção, li algumas páginas de On The Road, a versão traduzida. Pra quem leu Road no original, a tradução não satisfaz. Em português não é tão bom quanto em inglês; a voz de Kerouac se perde em nossa solenidade simétrica e verbal.
Não sabia muito bem o que esperar dos dias seguintes, mas aprendi que esperar não leva a nada. Assim, fiquei ali, sentado na poltrona 61 enquanto o trem deslizava para dentro de um túnel, passava por um lago sombrio e solitário e fantasmagórico ladeado de árvores. Na poltrona da frente, um pai tagarela não parava de puxar assuntos em francês com sua filhinha de dois ou três anos.
Era uma manhã plácida e cheia de relva. Como seriam as próximas horas? Putz, eu não fazia idéia. Como seria eu nas próximas horas? Não me pergunte.
Monumentos, luzes, alamedas, vinhos e mortos; era só o que conseguia antever. De resto, não sabia absolutamente nada.
Esplanadas vastas e impressionistas lá fora, bolas de capim e toras de madeira lá fora.
O trem acabara de chegar a outra estação. Eu não sabia que raio de lugar era aquele, mas as casas pareciam bolos confeitados. Provavelmente, mais um recanto de cartão-postal.
Eu sentia falta de falar. Minha voz estava cada vez mais trancada dentro de mim. E isso nada tinha a ver com o fato de estar num país estrangeiro. Lá estava eu, com dois continentes novos. Ao meu redor, a Europa; dentro de mim, um continente vasto, desconhecido e perigoso... um pesadelo africano.
Caramba, o papai e a filhinha não paravam de falar nem de se mexer por um segundo que fosse. Pareciam ligados na tomada. O papai se levantava, caminhava pelo vagão e se sentava de novo, o tempo todo. Notei que ele segurava duas entradas da Euro Disney. Atravessar dois países só para levar a garota à Euro Disney. Legal da parte dele.
O trem estava demorando demais naquela estação. E eu continuava em busca de minhas respostas. As mesmas respostas que sempre procurei.
Não encontrei qualquer resposta. Tudo é uma incógnita, é o “não saber” e o futuro.
O trem voltou a andar. Trilhos que riscavam o cascalho com metal enferrujado enquanto eu seguia até a próxima estação.
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