Notas de um moleque desocupado - 19 de julho

sexta-feira, 18 de julho de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Há diversos tipos de gente no mundo. Animais seguem padrões comportamentais e existenciais. Um cachorro será sempre um cachorro, não importa o que você faça com ele. Um camelo será sempre um camelo. Você jamais verá um leão saltitando alegremente e mastigando uma cenoura. Tampouco verá um coelho rugindo no meio da selva. O ser humano é o único animal que não segue padrão algum. Pelo menos não segue qualquer padrão da natureza. Se ele segue padrões de moda, de sociabilidade, de idiotices, isso já é outra história.

É estranho, a mesma espécie é capaz de atingir um patamar gigantesco, tornando-se um Beethoven, por exemplo, ou ser tão ignóbil e insípida quanto uma amebazinha escorrendo pelo ralo.

Vemos pessoas que ajudam os outros a troco de nada. Pessoas que realmente se importam e que não medem esforços para estender a mão. Também vemos aqueles que pedem ajuda a troco de nada; se acostumam com as mãos estendidas.

Alguns são tão audazes, que é impossível saber a extensão de suas conquistas. Outros gostam de se encostar em quem está ao lado. Esses estão mais para parasitas, para fungos, que para pessoas.

Já vi sujeitos que constroem suas vidas como se fossem um castelo, e o castelo atinge as nuvens, se é que isso é possível. Sua contraparte são aqueles que se ocupam com a vida dos outros. Não falo de paparazzi. Esses estão trabalhando. Falo daqueles que fazem dessa atividade um hobby. Ou melhor, uma razão de ser; a troco de nada. Geralmente, não chegam longe. Não chegam sequer na próxima esquina.

Tem gente que quer ganhar dinheiro a qualquer custo. Vivem para o dinheiro. O dinheiro não é o meio, mas o fim. Em compensação, tem gente que não quer ganhar dinheiro algum; simplesmente se arrasta por aí, ao longo dos dias, com o pensamento tão estreito quanto uma ruela de um bairro barra-pesada.

Acho que todos nós temos potencial. Mas como li num livro certa vez, potencial não significa nada. O que importa é concretização.

Eu, por exemplo. Escrever essa crônica não significa que tais conceitos tenham alguma aplicabilidade à minha vida. Nem para o negativo nem para o positivo. Não me torno mais elevado simplesmente porque vislumbrei a capacidade do ser humano de se elevar. Tampouco saio por aí sacudindo as amebazinhas e gritando: “Você é irritante demais, sabia?!”. Não que não dê vontade de fazer isso...

Seja lá como for, nós dominamos o planeta. Ao longo da história fizemos alguns progressos e um monte de cagadas. Pode ter certeza que faremos mais. Não sei o que nos extinguirá. Sei lá se vai ser uma chuva de meteoros ou se nós mesmos nos extinguiremos com nossa sede de morte. Mas o que tenho mais medo é que nos tornemos tão idiotas que, quando chegar o momento da extinção, não tenha sobrado nada em nós para ser extinto.

Enquanto isso, nós seguimos em frente, com nossos Beethovens e nossos fungos, cada um fazendo o que acha que deve ser feito. Então, meu amigo, eu fico por aqui e até a próxima.

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