Notas de um moleque desocupado - 18 de abril

Por Daniel Frazão
sexta-feira, 17 de abril de 2009
por Jornal A Voz da Serra

O que eu quero para o Brasil é um pouco mais que um simples partido político. Na verdade, não gosto de partidos políticos. Não gosto de grandes conglomerados de ladrões. Para o diabo com a direita e para o diabo com a esquerda. O que eu quero para o Brasil é estrutura, atmosfera, alma o bastante para que tenhamos indivíduos. E falo de indivíduos de todas as idades. Pois estamos ficando completamente estúpidos por aqui. Os velhinhos são simplesmente os estúpidos que viveram demais e as criancinhas são simplesmente os estúpidos do porvir.

Sabe, somos mais que bundas e praias. Bunda cria celulite e praia fica poluída. E olha que não tenho nada contra bundas e praias. Adoro uma linda bunda feminina e quanto às praias... bem, admito que praia não é muito a minha praia.

Mas como estava dizendo, o que eu quero para o Brasil é uma alma, uma história, uma cultura, vasta como o nosso terreno. Chega da ideologia do roubo e da ignorância. Roubo e ignorância tem em tudo quanto é lugar. Mas por aqui, nós os elevamos a um patamar de estilo de vida.

Cultuamos o objeto. Por isso, reduzimos tudo a objeto. Nossas mulheres são objetos descartáveis para uso sexual. Nós, como indivíduos, somos objetos descartáveis para o roubo e a canalhice exacerbada. E todo o resto é objeto, à sua maneira. Informação, cultura, preparo, por não serem coisas, são imediatamente descartados de nossa realidade.

Não temos nada do que poderíamos ter.

Não somos nada do que poderíamos ser.

O pobre é descartado por conta de sua privação completa e absoluta, e não tem acesso a nada. O rico é dividido em duas camadas: uma é composta de quadrilhas de bandidos e a outra de grupinhos de beautiful people politicamente corretos que se inebriam num oba-oba cor-de-rosa que não termina nunca. E a classe-média... bem, a classe média participa de um estupro ininterrupto de consumismo e lavagem cerebral.

Então, para onde correr?

Como eu disse, somos objetos. A mulher é um pedaço de carne. O homem é um pedaço de carne. Nós todos, como indivíduos, somos um pedaço orgânico e pulsante. O Brasil é um pedaço de terra. E tudo é objeto. Objetos funcionais que logo perdem a utilidade.

E já estou meio cansado de ser objeto e interagir com objetos. É preciso objetividade nessa subjetividade ideológica. É preciso enxergar claramente quem somos, onde estamos e o que somos, ao invés de ficarmos perdidos em névoas de ignorância por toda a vida.

Por isso digo, a questão vai além de partidos políticos, vai além de bolsas-família. Nem só de miolo de pão vive o homem. E quanto aos outros miolos? Esses também estão em falta.

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