Tenho problemas com pessoas. Não gosto de muitas. Gosto de muito poucas. Mas as poucas de quem gosto, gosto muito. E as poucas de quem gosto, estão mais presentes dentro de mim do que propriamente do lado de fora.
São as poucas pessoas que podem se chamar de meus amigos. Estão incrustadas em minhas lembranças e em meus escritos. Sempre estarão.
É estranho, conseguimos seguir até certo momento de nossas vidas sem que nada seja tocado; seguimos por uma sucessão de dias e eventos intocáveis. Depois disso, a vida se torna um longo adeus. E você segue adiante, dizendo adeus, dando abraços, apertando mãos e se despedindo. E é preciso aceitar e saber lidar com isso. É preciso seguir adiante e deixar que os outros também sigam adiante. Caso contrário, nos agarraremos a um momento já morto, a uma etapa já inexistente, a um quarto vazio.
E o mais estranho de tudo é que não pensamos nas pessoas importantes de nossas vidas como pessoas importantes de nossas vidas. Aqueles poucos amigos que compartilham momentos insignificantes, aquelas poucas pessoas cheias de falhas e desinteressantes, são eles que nos apertam o peito mais tarde. Mas viver é assim. E ninguém está perto o tempo todo, da mesma forma que ninguém fica distante o tempo todo.
Há uma linha tênue entre não se renegar a si mesmo e se agarrar ao que já passou. Essas poucas pessoas desses momentos insignificantes em lugares insípidos tornam-se a força motriz de nossa personalidade; é isso que faz de nós o que somos. Essas coisas fazem parte da gente e seguem com a gente, fundidas com a gente, seja lá para onde formos. Por outro lado, tentar se ater fisicamente a essas coisas só nos deixa paralisados, só traz sofrimento e vazio absoluto. Eis o grande dilema, a grande diferenciação que todos precisam aprender a fazer para conseguir viver.
Aceitação e movimento. Precisamos das duas coisas. Eu preciso. Preciso desses poucos amigos e desses momentos e lugares tão insignificantes, preciso disso tudo dentro de mim, mas não posso me agarrar fisicamente a isso. Agarrar-se a isso é dizer “não” à vida, é renunciar à existência. Por incrível que pareça, muita gente faz isso. Conheço alguns que fazem isso. Sinto pena deles. Mais cedo ou mais tarde terão que abrir os olhos e encarar o quarto vazio.
Então, essa coluna vai para essas poucas pessoas que estão dentro de mim. Não vou citar nomes. Quem faz parte desse pequeno grupo, sabe que faz. Quem não faz parte, talvez se engane e ache que faça, mas não importa.
E quanto a você que está aí agora, lendo mais uma de tantas colunas, adiante! Pois a vida está aí. Espero que você também esteja.
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