Notas de um moleque desocupado - 02 de maio

Por Daniel Frazão
sexta-feira, 01 de maio de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Ninguém consegue barrar Henry Miller. E nenhum leitor é leitor antes de ter lido Henry Miller. A obra dele é única na literatura. Não há igual.

A primeira coisa que li de Miller foi A Hora dos Assassinos, sobre Rimbaud. Ele gostava de Rimbaud e muito. O livro é incrível e tem uma abordagem singular a respeito do enfant terrible. Alguns chamariam de crítica, mas é um livro que está muito acima disso; é literatura sem rótulos.

Depois mergulhei na trilogia da Crucificação Encarnada, Sexus, Plexus e Nexus, e agora sim estamos falando de um Henry Miller puro sangue. Depois disso, acho que foram Trópico de Capricórnio e aquele que para a grande maioria é o maior de todos: Trópico de Câncer. Dessa vez, acho que fico com a maioria. É mesmo um livro danado de bom; o maior de todos. Em seguida, vieram todos os outros. Confesso que não achei Primavera Negra tão bom quanto dizem que é. Achei um tanto quanto chato.

Henry Miller passou grande parte de sua vida como um expatriado na Europa; no entanto, nunca deixou de ser americano, por mais que odiasse a América. Certos lugares, quanto mais nós os desprezamos, mais eles nos impregnam. Foi assim com Henry Miller e os Estados Unidos.

Apesar de ser um expatriado, jamais fez parte da turma dos expatriados de Paris. Que eu saiba, ele não conheceu Hemingway (pelo contrário, achava os livros de Ernest bem ruins). Também não conheceu a maioria daquela galera. Mas comeu Anais Nin.

Sexo é uma das nove razões para a reencarnação. As outras oito não interessam.

Não fui eu que disse isso, foi Henry Miller.

Mas ele não pensava só em sexo,

Ao expandirmos o campo do conhecimento, apenas aumentamos o horizonte da ignorância.

Como você pode ver.

Em sua vida de expatriado, nem sempre havia dinheiro em seus bolsos. Henry dormiu inúmeras noites nos bancos do Jardin des Tuileries. Sua dieta consistia em ocasionais convites para jantar.

Seu primeiro livro, Trópico de Câncer, foi lançado no início dos anos 30, mas apenas em Paris. Ficou proibido nos Estados Unidos por muitos anos e somente na década de 60 seria publicado por lá. A proibição limou inúmeros expatriados por décadas.

Miller morreu em 1980, bem velho. Ele estava de volta à sua terra natal. Foi cremado e suas cinzas, espalhadas, sei lá por onde.

Enfim, o que eu quero dizer com tanto rodeio? Se você tiver algo na cabeça, leia esse sujeito. E se não tiver, leia mesmo assim; será uma boa forma de começar a ter.

Henry Miller pro que der e vier.

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