notas de um moleque desocupado - 01-11-08

sexta-feira, 31 de outubro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Mais um de nossos bizarros casos criminais. O garoto seqüestra duas meninas e mata uma delas. Pouco tempo atrás era a menininha atirada pela janela.

Ex-namorados que matam ex-namoradas, ex-maridos que matam ex-esposas, ex-amantes que matam ex-amantes. Tudo pelo amor ou pela falta dele. De acordo com esse amor, uma bala na cabeça é uma solução bastante razoável. A questão é escolher a cabeça.

Como disse Rimbaud, o amor precisa ser reinventado.

De que qualquer forma, não acho que o amor seja o principal responsável. Na verdade não há principal responsável. Emoção e intelecto deturpados são sintomas extremamente comuns da sociedade atual. A sociedade do consumo, a sociedade do imediato, a sociedade do descartável, a sociedade do espetáculo.

Por falar em espetáculo, transformam-se caras com revólver na mão em estrelas de cinema em um minuto, em um segundo. Todo mundo quer entrevistá-los com exclusividade (ignorando o fato de que não se tem exclusividade sobre psicopatas), tirar fotos para as primeiras páginas e obter declarações bombásticas.

Como disse Jim Morrison, somente assassinos são de fato celebridades. Algo assim.

Assassinos e vítimas são postos no mesmo patamar de luminosidade. Seus atos são deixados de lado em prol da imagem, que é o que conta de verdade. E tudo é feito sob a justificativa da informação. Não é audiência, não é dinheiro, é informação. Besteira. Assim como também é besteira quando se diz que as filas quilométricas no velório das vítimas, com curiosos de braços estendidos tirando fotos do caixão, é uma homenagem, é a população prestando seus sentimentos. Tá bom, conta outra.

Absorvemos tudo, indiscriminadamente, como o processo osmótico de uma esponja.

Na sociedade do espetáculo não existem vítimas e algozes; existem apenas atores, ou melhor, personagens... e platéia.

A realidade tornou-se um reality show, levado ao ar ininterruptamente. Algum dia nós botaremos câmeras dentro de um caixão; a primeira putrefação televisionada em pleno horário nobre.

Mas a sociedade do espetáculo também é a sociedade do imediatismo, e nossos pequenos dramas são substituídos com velocidade de 2 giga. O que é notícia hoje será embrulho de peixe amanhã.

Essa é a sociedade do espetáculo e sua hierarquia de egos. Por isso eu digo, dificilmente tem a ver com amor, ou com perda de empregos, ou com doença ou com sei lá o quê. É tudo uma questão de insatisfação com o papel que se está representando.

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