notas de um moleque desocupado

Daniel Frazão
sexta-feira, 02 de maio de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Escrevo em pleno feriado. Os feriados estão se tornando cada vez mais comuns, quase mais freqüentes que os dias úteis. Hoje é segunda-feira, e esse feriado já vem se arrastando desde sexta. Amanhã é dia normal, mas como quarta-feira é outro feriado, o pessoal vai acabar emendando a terça. No fim das contas, cinco dias de “paradeza”. O tempo de um carnaval. Semana que vem? Tem feriado na quinta. Sexta vai de brinde.

Nem preciso dizer que odeio esse negócio todo. Para começar, o país cai na inércia. Querer ser de primeiro mundo enquanto se acaba com todos os dias úteis é como querer ficar rico contando com o prêmio da loteria. Fantasia. Desculpa para não se mexer.

E você já deve ter reparado que se criam cada vez mais feriados. A cada ano que passa, os dias úteis diminuem. Não espere que novos dias úteis brotem da terra.

Bem, esse é o motivo politicamente correto pelo qual odeio o frenesi de feriados. Mas não sou um cara tão bonzinho assim, minha essência não é politicamente correta por inteiro.

Por exemplo, se eu trabalhasse num escritório ou se ainda fizesse faculdade ou colégio, provavelmente ficaria todo felizinho diante dos feriados, como 99% das pessoas. Só que meu trabalho independe de feriado. Lido com prazos, com horários que eu mesmo estipulo etc. Então, feriado não significa nada para mim. Ou melhor, significa, sim. Feriados significam mais domingos (blearg!) na semana. Pracinha de algodão-doce. Nas calçadas só família, cachorro, vovó. Ruas vazias. Tudo fechado. Mormaço. Tardes que se arrastam. Tédio profundo e supremo. Churrascos fantasmas pairando no ar. O domingo em plena segunda ou quarta-feira. Sinceramente, não sei como alguém pode curtir essas coisas. É preciso sentir um ódio incomensurável pelos dias úteis para se curtir uma besteira dessas.

Esse é o meu motivo particular para antipatizar com os feriados; não tenho interesse algum neles. Mas acho melhor você se ater ao motivo politicamente correto. O país não funciona. Se o país não funciona, a possibilidade de se tornar primeiro mundo converge com a possibilidade de você ficar rico por meio da loteria, e a matéria-prima é a mesma para as duas possibilidades: fantasia. Fantasia é a visualização de um desejo sem que se faça por onde.

Eu me pergunto quais feriados novos surgirão no ano que vem. Talvez o dia da internet. Ou quem sabe o dia do onanista. Não importa, é tudo a mesma coisa. No fundo, ninguém dá a mínima para o homenageado do feriado. É só pretexto.

Ah, deixa pra lá. Hoje é segunda-feira de carnaval e... quer dizer, é segunda-feira de feriado e quarta-feira será novamente feriado e semana que vem também. Pode apostar que outros feriados estão a caminho.

Você deve ter percebido que a palavra “feriado” apareceu umas trezentas vezes nessa crônica. E daí? Os feriados também aparecem umas trezentas vezes ao longo do ano. O que nos deixa com sessenta e cinco dias úteis.

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