“Nossas mãos, nossas ferramentas”

A beleza dos móveis de madeira de Ricardo Graham
sábado, 05 de novembro de 2016
por Jornal A Voz da Serra
“Nossas mãos, nossas ferramentas”

Ricardo Graham Ferreira é carioca, tem 42 anos e uma paixão: trabalhar com madeira. Desde muito cedo. Adorava seus brinquedos, gostava de observar os móveis das casas — “eu tenho isso na memória, eu criança, observando detalhes dos móveis”. Designer e artesão especializado na produção de peças únicas feitas em madeira, aprendeu o ofício na Europa, entre 2002 e 2006, entre a Itália — onde pôde conviver por três anos com os mestres artesãos de Meda, a chamada “cidade do Móvel” — e o sul da França, onde se especializou na École Supérieure d’Ébénisterie d’Avignon, obtendo lá seu título superior em ebanisteria.

No site de Ricardo, é possível ter a exata dimensão da beleza de suas obras, mas a primeira coisa que chama atenção é justamente o nome: oebanista.com.br. Ele explica que ebanisteria é aquilo que comumente chamamos marcenaria, o projeto de design (desenho) e a construção de uma peça em madeira, mas que, como expressão latina, acabou caindo em desuso por aqui, no Brasil, ainda sendo comum lá fora. “Uma vez escreveram ‘O ebanista’ no título de uma matéria que fizeram comigo... e eu gostei! Acabei usando”, conta. Ebanisteria, explicando grosseiramente, é arte de trabalhar com madeiras exóticas. O termo vem de ébano, a madeira negra exótica africana — “aquela da tecla negra do piano”.

Uma de suas peças mais conhecidas é o banco Sela. “Ele me veio de uma forma muito natural, espontânea. Fiz em 2013, toda modelado à mão, muito confortável. Não tem altura de cadeira, é um pouco mais alto, mas também não é tão alto quanto um banquinho de bar, por exemplo, o que dá conforto à peça”, acrescenta Ricardo, contando ainda que o banco já foi premiado três vezes: em 2014, no Museu do Objeto Brasileiro-SP, e em 2015, ganhou em duas categorias em uma prêmiação também em São Paulo. “Um na própria categoria em que ele estava concorrendo e outro na categoria ‘Madeiras alternativas’, que é um prêmio oferecido pelo Serviço Florestal Brasileiro por aquelas peças feitas em madeiras que não costumam ser frequentemente utilizadas pelos designers na composição de móveis. Sem dúvida, posso listá-lo como uma das minhas peças preferidas”, pontua.

Desde 2006, quando voltou para o Brasil, Graham optou por montar, aos poucos, a sua oficina em Nova Friburgo. “Minha mãe já morava aqui desde 94, e eu, além de já gostar do lugar, percebi que aqui tinha um campo muito bom, tanto pra marcenaria quanto pra mão de obra, também. Já tenho até título de eleitor aqui”, brinca.

Sobre ídolos e influências: “Há muitas pessoas e criações que me agradam muito, não só da marcenaria, mas obviamente muitas do meio. Lembro sempre do Joaquim Tenreiro, um português que morou no Brasil e teve uma influência muito grande no design de móveis moderno na década de 60, de um marceneiro japonês, que mora no Brasil, chamado Morito Ebine. Os escandinavos têm linhas que eu gosto muito. Rodin, Klimt, Oscar Niemeyer, Burle Marx e seus jardins...”.

Sobre inspiração: “Eu sou marceneiro. Eu ponho a mão na massa, é na madeira que eu crio, é no ambiente da oficina que eu me inspiro. Minha inspiração é fazer o que eu gosto, minhas ferramentas de trabalho são as minhas mãos... quando a gente faz o que ama, faz feliz”.

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