No Jardinlândia, ainda o medo constante de novas tragédias

sexta-feira, 16 de março de 2012
por Jornal A Voz da Serra
No Jardinlândia, ainda o medo constante de novas tragédias
No Jardinlândia, ainda o medo constante de novas tragédias

Moradores denunciam que bairro não recebeu qualquer obra de contenção

Henrique Amorim

As tristes imagens do 12 de Janeiro de 2011 não saem da memória dos moradores do Jardinlândia, no distrito de Conselheiro Paulino. O bairro contabilizou num só deslizamento na Rua João Rodrigues Pinto, de acordo com os moradores, 43 mortos, na localidade conhecida como Tauru. Duas imensas avalanches soterraram de uma só vez pelo menos 23 casas. Não houve tempo para todos deixarem o local. Após dias de buscas nos escombros, 38 corpos foram resgatados. Dois ainda não foram encontrados até hoje. O morador Lúcio Pereira, da janela de sua casa na rua transversal, a Dagmar Aguilera Campos, diz que a tragédia parece ter ocorrido ontem. No local, apenas foi feita até agora a retirada de toneladas de lama que chegaram até a sua rua e invadiram garagens e casas. “Parecia mesmo o efeito de um tsunami. Uma coisa impressionante. O pior é que hoje vemos essa gigantesca barreira ao fundo anunciando a possibilidade de novos acidentes aqui no período de chuvas”, acredita o morador que garante não ter medo de continuar morando aqui e não consegue limpar da memória as cenas da retirada dos corpos de vizinhos que ele ajudou a resgatar. Em meio aos escombros ainda podem ser encontrados alguns pertences das vítimas. Entre bonecos e calçados, até um piano jaz em meio à lama e já está quase encoberto pelo mato.

Depois da limpeza da lama, surgiram outros problemas ainda sem solução no Jardinlândia. Parte da rede subterrânea de escoamento das águas está entupida e em dias de chuvas os bueiros e bocas de lobo de algumas ruas, principalmente as mais íngremes do bairro transformam-se em verdadeiros chafarizes. Na rua da maior catástrofe já vista no bairro, a João Rodrigues Pinto, a enxurrada transforma a ladeira numa forte corredeira. “Quando chove forte não dá nem para andar por aqui. É uma coisa impressionante. Sem vazão nos bueiros, a água da chuva invade a rua e até as garagens”, diz outro morador que toda vez que chove forte deixa o Jardinlândia e abriga-se num imóvel no loteamento vizinho, o Jardim Califórnia, alugado para abrigar a família em situações de risco. “É uma pena. Reformei toda a casa, investi aqui e agora tenho medo ao avistar essa imensa barreira nos fundos da minha casa”, diz o morador. A família já presenciou algo semelhante nos temporais de 2007 quando outra encosta cedeu e destruiu pelo menos cinco imóveis no bairro. Hoje as cenas do desastre já não são mais tão marcantes, pois o mato encobriu as cicatrizes na montanha, mas quem viu o ocorrido, não esquece e tem medo. Investimentos no local, até agora, nenhum.

No alto do Jardinlândia, na Rua Érico Veríssimo, os moradores convivem com cicatrizes deixadas pelas chuvas há cinco anos. Parte do acostamento da via cedeu e atingiu algumas casas. Os escombros ainda estão por lá e quem mora nas proximidades teme novos acidentes. “Por incrível que pareça, com a tempestade de 2011 esse trecho não sofreu nada, mas não se sabe o que pode vir a acontecer. Depois da queda recente da barreira na Granja do Céu [Cônego] sem chuva, o medo é contínuo”, diz Rodrigo Vieira. “Vontade de ir para um local mais seguro eu tenho, mas aqui não pago aluguel. Ouço falar de tantos projetos de obras de contenção em Nova Friburgo, mas não sei o porquê do Jardinlândia não ter sido beneficiado ainda. Parece que o governo está esperando o mato crescer para esconder os estragos na montanha. Mas quem viu o que aconteceu aqui nunca vai se esquecer”, argumenta outra moradora.

Na Rua Francisco José Martins, que assim como outras tantas do bairro é bastante íngreme, os motoristas têm dificuldade para trafegar, principalmente em dias chuvosos devido à quantidade de buracos. Na Rua Francisco Pires de Queiroz (antiga Mobral), a pavimentação praticamente acabou e o acesso de veículos é prejudicado. Na semana passada o bairro recebeu uma operação tapa-buracos em algumas ruas, mas ainda há muito que fazer. A falta de capina é outra queixa recorrente entre os moradores do Jardinlândia, que solicitam um mutirão à Prefeitura. Nas esquinas outro problema: o acúmulo de lixo e entulhos de obras.

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