Carlos Emerson Junior
Conta a lenda que após a morte de um dos reis da Frígia (ou Ásia Menor), o Oráculo anunciou que seu sucessor chegaria à cidade num carro de bois. A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que, para não esquecer o passado humilde, mandou amarrar a tal carroça em uma coluna do templo de Zeus, com um inacreditável nó cego.
Górdio morreu e seu filho Midas, aquele mesmo que tudo em que tocava se transformava em ouro, expandiu o reino, mas não deixou sucessor. Os nobres correram novamente ao Oráculo que profetizou que quem desatasse o nó dominaria o mundo.
Quinhentos anos se passaram até que um belo dia, Alexandre o Grande, ao passar pela Frígia, foi ao templo de Zeus, analisou a situação e cortou o nó com apenas um golpe de sua espada. Poucos anos depois Alexandre se tornou senhor de toda a região, surgindo aí a expressão “cortar o nó górdio”, que significa resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz.
Pois é, só mesmo recorrendo à mitologia grega para explicar o calcanhar de Aquiles (conto essa em outra oportunidade) de Nova Friburgo, a distribuição de energia elétrica, iluminação pública, linhas telefônicas, banda larga da internet, televisão e mil outras utilidades, através de cabos esticados em postes, as tão mal afamadas redes aéreas.
Aliás, é bom deixar claro que poste que ilustra este artigo não está em uma das favelas cariocas, mas em plena Rua Carlos Alberto Braune, principal acesso para as Braunes e outros bairros importantes de nossa cidade. Infelizmente essa feiura pode ser vista em qualquer lugar de Nova Friburgo e a tendência é piorar, já que cada vez mais somos dependentes desses serviços.
Os friburguenses conhecem muito bem os transtornos que sofrem toda vez que chove, venta mais forte, raios caem ou se faz necessária uma simples manutenção ou troca de um poste: a luz some, o telefone emudece e a internet morre, não necessariamente nessa ordem. Quem mora em bairros muito arborizados sofre mais, já que qualquer queda de galhos de árvores quase sempre provoca danos.
A rede aérea facilita o roubo, entre outros, de energia elétrica, os tristemente famosos “gatos”. Colisões de veículos em postes podem provocar, além da perda de vidas, prejuízos enormes à cidade, deixando ruas e até mesmo bairros inteiros sem semáforos, gerando congestionamentos e interrompendo o funcionamento normal de indústrias, comércio, escolas, hospitais e serviços de saúde, um caos total.
A questão estética então nem se discute, basta tentar achar um lugar para as montanhas que circundam Nova Friburgo, sem ter a visão total ou parcialmente obstruída por um emaranhado de fios, uma completa poluição visual. Aliás, já notaram que os belos casarões da cidade estão todos encobertos por essas teias de aranhas eletrônicas? Para os fotógrafos e turistas, é um pesadelo!
As redes subterrâneas são seguras e eficientes, apesar de mais caras. Os defensores dessa técnica explicam que o custo da implantação será recuperado mais à frente, com a durabilidade e facilidade para efetuar reparos, além da óbvia continuidade dos serviços.
Ganham todos, as concessionárias com a redução da manutenção e aumento dos índices de confiabilidade, o poder público com o aspecto urbanístico, flexibilização das vias públicas e aumento da segurança e os usuários, com a redução das interrupções, aumentando sua produtividade.
Não por acaso, a prefeitura do Rio radicalizou e, através de decreto assinado em setembro do ano passado, vai banir da paisagem a rede aérea mantida pelas concessionárias de serviços públicos em cerca de 480 mil postes. O aterramento começará pelas áreas turísticas e os locais da Copa de 2014 e das de Olimpíadas de 2016.
É isso aí! O crescimento de uma cidade passa obrigatoriamente pela qualidade de sua infraestrutura. Não adianta pensarmos em atrair universidades e implantar polos de pesquisas, por exemplo, se não pudermos oferecer o mínimo esperado, luz e comunicações de forma eficiente e segura. Não dá para imaginar cientistas em um laboratório de ponta, preocupados se a luz vai faltar toda vez que chove, não é mesmo?
Há alguns anos atrás se discutiu a reforma da Avenida Alberto Braune, onde a grande novidade seria a implantação de sua rede subterrânea. Sabemos que a própria concessionária de energia elétrica doou um projeto para a Prefeitura, mas, infelizmente, desacertos políticos e a tragédia de janeiro do ano passado se encarregaram de arquivar essa iniciativa.
Em algum momento, Nova Friburgo terá que fazer como Alexandre o Grande e cortar esse verdadeiro nó górdio, que tanto dificulta nossa recuperação econômica. A modernização da cidade e seus distritos passa obrigatoriamente pela resolução de alguns velhos problemas como o trânsito caótico, a ocupação irregular do solo, o ordenamento urbano, a falta de estratégias de crescimento e por aí vai.
Mas pensando bem, não precisamos de nenhum “herói mitológico” para desatar os nossos nós cegos. Basta nos unirmos e cobrarmos seriedade e principalmente, respeito. A hora de determinar novos rumos para Nova Friburgo é essa, meus caros amigos, e não podemos perder essa oportunidade.
Não podemos ter medo do Nó Górdio!
* carlosemersonjr@gmail.com
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