Comemorado nesta quinta-feira, 18, o Dia do Médico motiva uma reflexão sobre o cotidiano deste profissional tão importante para o bem-estar, a saúde e a qualidade de vida das pessoas. A equipe de A VOZ DA SERRA ouviu alguns conceituados profissionais da cidade sobre os desafios e o dia a dia da profissão. Esta é a nossa forma de prestar uma justa homenagem a toda classe nesta data tão especial, criada com o intuito de valorizar aqueles que salvam vidas, curam doenças e os males do corpo e da mente.
“Eu me sinto, depois de muitos anos, feliz. Fico contente por ter uma idade mais avançada e ainda ser muito procurado. É o reconhecimento do trabalho feito nesses anos todos. Tenho certeza que outros colegas de outras especialidades devem sentir a mesma coisa. A medicina é uma profissão que traz preocupação com os problemas médicos dos outros e, ao mesmo tempo, traz uma imensa alegria quando ajudamos a resolvê-los. Nas minhas especialidades, obstetrícia e ginecologia, eu tenho a sorte de trazer ao mundo novos seres humanos. Acho que médicos de outras especialidades também têm muito orgulho de ser médicos, de lutar e defender a saúde das pessoas.
O Dia do Médico é muito importante aqui, pois a Sociedade Médica promove um jantar de confraternização com a participação de toda a classe, com todos os médicos de todos os hospitais de Nova Friburgo. O evento é um momento de união, em que podemos avaliar o padrão da medicina da cidade, que está em alto nível, tanto na clínica, quanto nos laboratórios e cirurgias, em todas as especialidades. Os hospitais São Lucas, Day Hospital e Unimed funcionam muito bem, assim como a maternidade. Estamos preocupados com a saúde pública e o que a Sociedade Médica puder fazer com o apoio do novo prefeito para melhorar o atendimento, iremos realizar. O Hospital Raul Sertã precisa de melhorias, especialmente no seu ambulatório. É necessário valorizar não só a classe médica, mas também os outros profissionais de saúde, como os enfermeiros.”
Carlos Pecci, ginecologista e obstetra e presidente da Sociedade Médica de Nova Friburgo
“Eu trabalho como médico há 40 anos e o maior desafio da profissão é se manter atualizado e estar consciente da grande responsabilidade que é lidar com a saúde. O médico tem uma missão, como qualquer profissional. Mas a missão do médico é especial, principalmente, por lidar com a vida humana, então, eu acredito que por esse motivo o médico tenha um nível de responsabilidade um pouquinho maior. O grande objetivo, que se torna imperioso na profissão, é não errar, e o ser humano erra. O ser humano não é perfeito, então, a grande preocupação dos médicos é errar o menos, o mínimo possível, mas o ideal seria não errar.
A importância da data é a lembrança da existência de uma classe que se dedica ao tratamento, ao atendimento e ao conforto dos pacientes, além da valorização do médico. Essa data, pode ser, de certa forma, ligada a essa valorização que o médico vem brigando. O médico ainda é pouco valorizado, tanto que existe uma campanha do Cremerj com o objetivo de valorizar os médicos. Então, a gente tem dito a seguinte frase repetidas vezes: ‘O médico vale muito’. É preciso que as pessoas e os gestores acordem para isso e valorizem o médico tanto quanto ele merece ser valorizado.”
Thiers Marques Monteiro Filho, pneumologista e coordenador seccional do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj)
“Dia do médico é todo dia. A gente vive diariamente em função da medicina por isso o médico tem que ser muito disciplinado e ter muita perseverança. Qualidades que fazem um bom médico são: bondade—o médico tem que ser bondoso—, empatia—tem que identificar com o problema do outro, se não se transforma num médico muito frio—, disciplina—isso a gente aprende ainda muito cedo, no início da faculdade, com horas de estudo, noites a fio estudando, depois os plantões—e raciocínio rápido—porque, às vezes, a gente tem que tomar decisões em segundos, de vida ou morte.
O paciente tem que ver o médico com muita confiança. O que é dito aqui, no meu consultório, não sai daqui. Muitas vezes eles não estão com nenhuma doença, querem desabafar, choram, contam um problema pessoal grave que aconteceu, e a gente tem que saber ouvir, entender, opinar, porque ele está precisando de ajuda. Às vezes, o pedido de socorro do paciente não é nada orgânico ou uma doença, a queixa pode ser algo psicológico, depressão, um problema grave na família. É só a gente disponibilizar um pouquinho de tempo para ouvir o paciente que ele vai se soltar e se sentir seguro, caso se sinta acolhido. O médico tem que ter acolhimento.
E uma coisa importante na vida médica—que muitos acham uma profissão muito bonita, mas não é, é uma profissão sofrida porque lidamos com muito sofrimento e vemos tristezas todo dia—é que deixamos a família muito de lado. É uma profissão de dedicação quase integral. Várias vezes eu estava com a mala pronta para viajar, num final de semana, num feriado, e tive que cancelar os planos porque um paciente foi internado. Várias vezes eu estava em casa, domingo à noite, e tive que ir ao hospital ver um doente. Enfim, em muitas situações a minha família ficou em segundo plano. Minhas filhas, adolescentes, entendem, já estão acostumadas, já cresceram vivenciando essas situações.
A pessoa que quer ser médica hoje em dia tem que pensar nisso, em todas essas possibilidades, vai ter que abdicar da vida pessoal muitas vezes. Mas vale a pena. É muito bom quando conseguimos ajudar uma pessoa a melhorar, quando vemos resposta ao tratamento, ou quando atendemos o paciente no consultório e ele desabafa, conta o seu problema e sai daqui aliviado. Entrou triste e chorando e sai com o sorriso no rosto. Só com um papo, uma conversa ele se sente mais alegre, mais feliz em ter podido falar e o médico fica também feliz em dar esse retorno a ele. Um bom médico tem que ser um pouquinho psicólogo também.”
Beatriz Alvarez Corrêa de Oliveira, clínica médica
“Esta é uma profissão extremamente difícil e, ao mesmo tempo, atraente, pois podemos melhorar a saúde do próximo, aliviar o seu sofrimento. Isso dá grande alegria ao médico. Às vezes as pessoas chegam com problemas e o médico, com os conhecimentos adquiridos, com carinho, consegue recuperar a sua saúde.
Atualmente há mudanças importantíssimas relacionadas aos planos de saúde, que mudaram a relação médico-paciente. Os planos têm suas normas, determinações e algumas vezes os clientes—até por imposição das empresas onde trabalham—trocam de plano. É outra situação difícil.
Na medicina tudo tem que dar certo, caso contrário pode-se perder uma vida. Em outras profissões, falhas técnicas podem ser corrigidas, com o médico, não. E isso deixa os médicos em grande estresse. Ele vive cercado por doenças, sangue, suor, lágrimas e dores. Nos hospitais é sofrimento por todos os lados. O médico tem que estar sempre pronto para ser chamado. Eu vejo os médicos de plantão (e eu durante muitos anos dei plantão também) que ficam imobilizados dentro de um hospital, porque ele sabe que, a qualquer momento, vão chegar grandes e graves problemas para ele resolver. Isso faz parte de sua formação, ele sabe que vai ter esse dia a dia, mas isso faz que com que ele sofra muito. E o médico tem que resolver tudo isso. Ele tem que criar sua defesa, uma blindagem, uma barreira para se proteger. Alguns preferem sair da cidade, viajar, outros vão ao clube, praticam natação, curtem música, tocam um instrumento musical, gostam de leitura.
Eu considero a profissão médica com um lado muito bonito, de conseguir atuar na vida das pessoas, melhorando sua saúde, devolvendo uma saúde que foi perdida, curando uma doença. O bem-estar do paciente é o maior retorno que um médico pode ter. Quando se leva uma pessoa ao hospital, muito grave, e depois dá alta a essa pessoa, isso é uma coisa maravilhosa. Quando se ajuda a uma mãe a dar à luz o seu bebê é uma coisa muito agradável, muito gratificante. E tem as perdas. As pessoas perdem a vida dentro de um hospital, parentes nossos também, e esses momentos são muito dolorosos. A natureza coloca diante do médico situações em que não há mais o que ele possa fazer. São aquelas pessoas que estão além da ajuda, além do socorro. O médico deve também estar sempre preparado para as perdas, que são inevitáveis e sempre vão acontecer dentro de um hospital, na mão do médico.”
“Em 18 de outubro comemora-se o Dia do Médico e acho que é uma data como outra qualquer mas que procura valorizar aquele profissional que vive no seu dia a dia o problema dos outros. Em uma de minhas colunas publicadas em A VOZ DA SERRA disse que muitas vezes o médico só é parabenizado no seu dia mas os pacientes devem lembrar que de vez em quando é bom fazer um afago no seu médico. Apesar de atualmente não existir mais a figura do médico de família, esse tipo de atenção é importante para nós.
Não concordo com aquela velha máxima de que a medicina é um sacerdócio porque é uma atividade remunerada. Claro que é uma profissão nobre, que exige certo sacrifício e muita dedicação principalmente de determinados especialistas como obstetras, pediatras e diabetologistas (ramo da endocrinologia voltado para os diabéticos). Apesar disso, acho que os salários não são condizentes com a importância e a responsabilidade que a carreira representa para a sociedade como um todo. Mas, no final das contas, ser médico é algo muito gratificante.”
Max Wolosker, endocrinologista
“Ao longo do tempo, a medicina tem apresentado uma trajetória de muita luta e grandes vitórias. Vitórias que se traduziram, por exemplo, na erradicação de muitas doenças, algumas consideradas incuráveis, aumentando a cada década a longevidade dos cidadãos. Vem realizando avanços incomensuráveis no tratamento de patologias, algumas por longo tempo desconhecidas, outras estigmatizadas como sentença de morte àqueles que a portavam. Desenvolveu métodos de tratamento cada vez menos invasivos, instrumentação endoarteriais, equipamentos robotizados permitindo cirurgias à distância. Criou métodos de diagnósticos utilizando a medicina nuclear magnética, imagens em 3 e 4 dimensões. Descobriu drogas para tratamentos de inúmeras patologias malignas. Construiu diversas próteses de substituição de órgãos, membros, articulações e válvulas. Desenvolveu, em laboratório, tecidos humanos como pele, osso e cartilagem. Pesquisou e definiu o genoma humano. A medicina evoluiu de práticas empíricas e instintivas para a hoje considerada tecnológica onde os maiores avanços obtidos pelas pesquisas, em todo mundo, tornaram-na mais acessível, globalizando sua disponibilidade e reduzindo o sofrimento humano.
Desde Hipócrates, no século V a.C, que a história da medicina vem mudando o seu curso substituindo as crenças, as rezas e os deuses pela observação clínica, aliviando a dor. Os ensinamentos de Hipócrates permanecem até hoje e nos levam a reverenciar a todos aqueles que exerceram, exercem e exercerão a medicina em sua plenitude sempre ao lado de cada enfermo, independente do lugar, dos recursos disponíveis, nas horas mais difíceis e nos momentos de alegria pela salvação de mais uma vida. Esses mesmos ensinamentos nos remetem ao ano 2011 em nossa terra, quando a catástrofe climática exigiu de todos os profissionais da medicina dedicação acima dos limites normais e humanos, alguns resvalando por instantes, com a morte. O médico consola quando não cura. Apoia, quando a mão salvadora é necessária. Ajuda, quando levantar sozinho é impossível. Divide a dor, quando nas entranhas ela é fogo e ferro. Reza junto, quando os recursos se esvaem. É o amor pelo ser humano que permite, a cada um que exerça a medicina, valorizar a vida, curar doenças e aplacar a dor daqueles que sofrem.
‘Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha a nossa humanidade: o mundo terá apenas uma geração de idiotas.’ Albert Einstein (não foi médico).”
Renato Henrique Gomes da Silva, cirurgião bucomaxilofacial
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