Neurologista mostra como prevenir e tratar o acidente vascular cerebral, o popular derrame

terça-feira, 14 de julho de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Dalva Ventura

o dia 10 de fevereiro de 2003, Max Cantelmo acordou às cinco e meia da manhã e duas horas depois estava sendo atendido no Hospital São Lucas. Aos 58 anos, havia acabado de ter um Acidente Vascular Cerebral (AVC), o popular derrame cerebral. Ficou muito mal, ao ponto dos amigos se emocionarem quando o viam.

Passou dois anos sem trabalhar, até porque perdeu todos os movimentos do lado esquerdo do corpo, mas não desanimou em nenhum momento, muito pelo contrário. Tratou de mudar completamente seu estilo de vida e pegou firme na fisioterapia, pois sabia que sua recuperação dependia dele mesmo. Até então, era do tipo que acordava às 6h da manhã e nunca ia dormir antes das 23h, só comia em restaurantes a quilo e, pior, fumava dois maços de cigarros por dia. “Achava que estas coisas só dão no vizinho”, brinca, com o conhecido senso de humor que não perdeu nem nos momentos mais críticos e, com certeza, foi um fator fundamental em sua recuperação.

Hoje, Max leva uma vida completamente normal, a única coisa que ainda não faz é dirigir. “Numa escala de melhora de zero a dez, dizem que estou com nove, mas quero ver se chego a pelo menos a 9,8”, diz. “A vida me deu mais uma chance, então me agarrei nisso. Em vez de ficar me lastimando, caí pra dentro”, continuou.

Max Cantelmo participou ativamente da última Ratera (Reunião de Apoio Terapêutico) promovida pelo Hospital São Lucas, que teve à frente o neurologista Paulo Rosa e tinha como tema o AVC. Depois da palestra, a psicóloga Silvia Deslandes, que coordena o programa, pediu que Max desse seu depoimento, por ser “um exemplo de força de vontade, de fé em si próprio e na capacidade de superação após uma isquemia”, afirma.

Diante de uma suspeita, a recomendação é clara: correr para o hospital

Na verdade, o AVC é a terceira causa de morte em vários países do mundo e, com certeza, o principal motivo de incapacitação física e mental. “O AVC acontece quando o sangue encontra dificuldades para circular em alguma área do cérebro, comprometendo seu funcionamento”, afirmou o médico.

Em cada paciente o AVC se manifesta de modo diferente, pois vai depender da área do cérebro atingida, do tipo (isquêmico ou hemorrágico) e do estado geral do paciente, entre outros fatores. Os sintomas de um derrame podem levar de segundos a horas para surgir. Os mais comuns são dormência, dificuldades de movimentar um dos membros ou todo um lado do corpo, dor de cabeça súbita e intensa, sem causa aparente, seguida de vômitos, sonolência, perda de memória e confusão mental. Dependendo da área afetada, também podem surgir alterações na linguagem e na visão.

Diante de uma suspeita de AVC, a pessoa deve ser encaminhada imediatamente a um pronto-socorro. A pior coisa a fazer é aguardar para ver se há uma melhora e, muito menos, tentar medicar o indivíduo. “Se a pressão arterial estiver elevada, não se deve tentar abaixá-la, pois isso dificultaria ainda mais o acesso do sangue ao cérebro”, explica o médico.

Existem algumas correntes que recomendam a ingestão de ácido acetilsalicílico (AAS) na boca quando alguém apresentar sintomas de um derrame. Na verdade, esta conduta é totalmente contraindicada, alertou o médico. “Se for um AVC hemorrágico, isso pode piorar a situação”, garante. O tratamento vai depender do quadro, mas o quanto antes for iniciado, melhor. Alguns casos exigem até cirurgia, seja para drenar um coágulo ou para remover um aneurisma. Mas o importante mesmo é iniciar imediatamente a reabilitação, que vai envolver toda uma equipe de especialistas.

Sim, é possível recuperar as funções cerebrais comprometidas por um AVC. O processo de reabilitação pode demorar mais ou menos tempo, dependendo das características do derrame, da região afetada, da rapidez com que o paciente foi atendido, do apoio que receber por parte da família e, sobretudo, de seu empenho na realização dos exercícios prescritos.

Os fisioterapeutas têm um papel fundamental, inclusive para prevenir complicações, como paralisia e rigidez muscular, perda de mobilidade nas partes do corpo afetadas e das articulações. Fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos são igualmente importantes.

Uma doença que não escolhe faixa etária

O AVC é caracterizado pela perda rápida de função neurológica, decorrente do entupimento ou rompimento de vasos sanguíneos cerebrais. É uma doença de início súbito, que pode ocorrer por dois motivos: isquemia ou hemorragia. O AVC isquêmico é o mais comum e acontece devido à falta de irrigação sanguínea numa determinada área cerebral. A hipertensão arterial e certas doenças cardíacas, especialmente as que produzem arritmias, são algumas das principais causas da isquemia.

Paulo Rosa também falou sobre a chamada isquemia temporária, mais conhecida como ameaça de derrame. Neste caso, ocorre um déficit sanguíneo numa determinada região do cérebro com manifestações neurológicas, que cessa em alguns minutos ou, no máximo, algumas horas. Apesar de geralmente não deixar sequelas, a isquemia temporária representa um alerta importante, um sinal de que, se nada for feito, o indivíduo poderá vir a sofrer uma isquemia permanente a qualquer momento.

O AVC hemorrágico é menos comum, mas não menos grave, e ocorre pela ruptura de um vaso sanguíneo intracraniano. Infelizmente, o AVC hemorrágico costuma ser muito pouco sintomático. Ou melhor, os sintomas só surgem quando o vaso já rompeu.

Hipertensão arterial, arritmias, níveis alterados de colesterol, diabetes não controlado, obesidade, histórico de doenças vasculares, sedentarismo, uso excessivo de bebidas alcoólicas e, principalmente, fumo, são alguns dos principais fatores de risco.

Para entender como se dá o processo, é só imaginar um cano por onde passa a água. Se acrescentarmos lama a esta água, a velocidade com que ela corre começará a diminuir. A lama corresponderia aos constituintes do sangue. Para completar, coloquemos alguns obstáculos dentro deste tubo, no caso, um cimento colante, que corresponderia às placas de ateriosclerose. O que vai acontecer? A lama vai começar a aderir a este cimento e a água vai encontrar uma dificuldade ainda maior para passar.

O AVC é mais comum em adultos jovens ou na meia idade, mas não escolhe faixa etária. Pode acometer pessoas de todas as idades, inclusive jovens em plena atividade intelectual e laborativa.

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