Natal por Angela Pedretti

as tradições vão se transformando, sendo engolidas pelas marés do tempo e devolvidas transmutadas. Não se solta mais pipa no vento de agosto; não se rola mais pião nas tardes de verão; não se namora, deixa-se ficar; o papo é outro, a conversa é virtual; não se casa mais para sempre; não se vive o dia em sua plenitude, passa-se o tempo. Até as estações do ano submeteram-se à implacável realidade. O inverno é no outono e o verão o ano todo.

Será que no meio de toda essa confusão ainda se deseja Feliz Natal? Será esta mais uma tradição que foi parar no brejo dos tempos? Teremos perdido em algum canto de nossas cabeças a ideia de que a paz é algo possível e que a felicidade é um direito de cada um? Abandonamos no lixo da memória os ideais e as virtudes que sempre possibilitaram a permanência do sonho com um tempo de justiça e igualdade para todos? 

Acaso esquecemos 

em alguma gaveta do passado a receita de um Feliz Natal? Será hoje um daqueles papéis amassados no fundo de um bolso tão cheio de datas, atas, promissórias, compromissos, issos e aquilos?

precisam ser preservadas e sonhadas, ainda que a vida mude tanto a cada segundo. Pois além de tudo isso, e bem diante de nossos olhos, está o caminho para os dias melhores que tanto almejamos. 

despidos de tudo o que é material e efêmero, somos e seremos sempre todos iguais—nem mais nem menos—, e isso não é nenhuma tradição ou velho costume a ser quebrado. Isto é a condição humana, ideia, manifestação e desígnio divino que nos é permitido com um único gesto: oferecendo um abraço ao mundo, desejando, do fundo coração, um Feliz Natal para todos.

Que assim seja!