Karine Knust
Bandeiras, cornetas e verde e amarelo por todo lado. Muitos brasileiros resistem a essa ideia, mas é preciso admitir: o futebol é a paixão do nosso povo. Dos milhares de "técnicos” e entendidos do assunto aos que só assistem às disputas em época de Mundial, os jogos do Brasil são os mais aguardados. E por mais que não tenham se transformado em feriado nacional, o Brasil inteiro para o que estiver fazendo para torcer e vibrar nos horários em que a seleção está em campo. Porém, como toda regra tem sua exceção, existem aqueles que adorariam estar no mesmo clima que tem tomado conta de todo país, mas suas profissões não permitem tamanho envolvimento. Isso significa que, de certa forma, para eles, não vai ter Copa.
Geovane Wenderroscky Pedro tem 30 anos e trabalha como motorista há oito. Já passou por duas Copas nessa profissão e diz contar com a sorte para conseguir assistir aos jogos, já que uma viagem dura em média duas horas: "Atualmente trabalho em transporte público intermunicipal, mas na Copa de 2010, quando ainda trabalhava dentro de Friburgo, conseguíamos ver os jogos porque raramente alguém embarcava no ônibus durante a partida para ir de um bairro a outro. Agora é preciso contar com a sorte. Se calhar de a viagem acontecer na hora do jogo, não tem jeito. Não gosto muito de futebol, mas pelo menos os jogos da Seleção Brasileira eu gostaria de assistir”.
Glauffer Schumacker tem 28 anos e está há três na Polícia Militar. Apesar de adorar futebol e trabalhar por escala, pelo visto, este ano, vai ser um pouco difícil acompanhar a Seleção em campo. "Sou apaixonado por futebol desde criança. Na abertura da Copa, trabalhei exatamente no horário do jogo e acabei conseguindo ver alguns lances por uma TV ou outra, sem deixar, é claro, de cumprir o objetivo do policiamento. No segundo jogo, também estava trabalhando. Porém, dessa vez, não consegui ver nada e acho que não perdi muita coisa”, diz ele, rindo, ao se referir à partida Brasil e México que terminou no frustrante zero a zero. "Quanto aos próximos jogos, ainda não sei como será. Tenho que esperar a montagem da escala de plantão. Como não estou com muita sorte, bem provável que trabalhe novamente”, conclui o policial.
Muitos bares abrem para receber os que gostam de assistir os jogos com os amigos no meio da muvuca. E apesar de ter que dar conta dos pedidos, entre um e outro atendimento os garçons conseguem acompanhar a partida. Vigilantes precisam ficar atentos à movimentação do prédio, mas sempre têm um televisor a tiracolo — mesmo que bem pequeno — para não perderem os lances. Os profissionais de saúde que estarão de plantão, provavelmente, também podem assistir ao jogo no local de trabalho, mas também precisam ficar de olho nos pacientes e nos atendimentos de emergência que podem surgir.
Mas triste — triste mesmo — é para aqueles que estão no coração do Mundial, com os pés no gramado, praticamente na cara do gol, e simplesmente não podem olhar para o campo. Exatamente. Se você observar na transmissão dos jogos pela televisão, de vez em quando aparece um pessoal — com uma camisa escrita "sunset” — ao lado do gramado. Visão privilegiada, não é? Não, não é. Até que seria ótimo, mas o trabalho deles é assegurar que nenhuma pessoa atrapalhe a partida; por isso, eles precisam ficar de olho na arquibancada para que torcedores espertinhos ou revoltados não invadam o campo ou arranjem confusão. As reações da torcida são os guias para eles entenderem o que acontece logo atrás de suas costas. Chega a ser cômico, mas, de certa forma, para esses seguranças, também não vai ter Copa.
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