Não sei, não tenho.
Veja bem, não é que eu não goste delas. Eu gosto.
É, eu até gosto. O problema todo tá na convivência.
Talvez por isso eu goste tanto das fotografias.
Lá elas não falam. Nem comigo, tampouco entre elas—a segunda ação me irrita mais que a primeira.
Lá elas não se mexem, não são desengonçadas.
Às vezes são mal-vestidas;
Às vezes são vesgas;
Muitas vezes são gordas;
Mas isso é tolerável, vai!
A questão é a convivência. É isso: a tal da convivência.
É isso que eu não suporto.
Não sei conviver com a convivência.
O problema não é que as pessoas tenham hábitos estranhos.
Não é que elas sejam chatas.
Não é que elas sejam bobocas.
O problema é que elas me obrigam a conviver com esses “a mais”.
E olha aí “convivência” mais uma vez numa frase desse texto.
Um saco. São todas um saco.
Elas e seus problemas.
Elas e suas questões tão profundas quanto poças depois da chuva.
Elas e seus vícios e seus antidepressivos.
Elas e suas cubas libres—lugar este que até pouco tempo não tinha coca-cola; e ainda não é livre.
Elas e suas músicas e poesias.
Elas e seus comentários sobre músicas e poesias.
Elas e suas inteligências e culturas que não lhes servem.
Não falem comigo.
Não me contem seus problemas.
Nem suas vitórias.
Elas não cabem a mim.
Elas não me apetecem.
Não são interessantes aos meus olhos.
Vocês não são interessantes aos meus olhos.
Muito menos aos meus ouvidos.
Saiam. Vivam vidas. Se arrisquem.
Parem de tomar aquelas pílulas.
Não bebam todo dia. Fica sem graça.
Não fumem muito. Mata.
Diminuam a maconha. Destrói a memória.
Façam sexo. Mas beijem na boca.
Liguem no dia seguinte. Ou não.
Mas não me encham.
Não me liguem.
Não me mandem e-mails. Eu nem sequer os leio.
Não me contem.
Não me perguntem.
Não esperem que eu ria. Ou chore.
Não esperem nada.
Eu não tenho paciência pras pessoas.
Sei lá, não tenho.
(*) dmsiqueira@gmail.com
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