Nova Friburgo é uma cidade rica em produção cultural. Inúmeros artistas friburguenses - ou que escolheram a cidade como residência - são conhecidos através de sua expressão, formando aqui um caldeirão imenso de histórias pra contar. No reino da palavra, onde "penetramos surdamente”, temos nomes como o do poeta Sérgio Bernardo; dos trovadores, os quais homenageamos através do nome de Rodolpho Abbud; de Irapuan Guimarães; de Maria Lua. Há tantos outros, tanto de escritores quanto de pessoas que celebram a poesia através de projetos de leitura e recitais, como Márcia Lobosco e Scheila Santiago, com o Café Literário, Graça Simões e Álvaro Ottoni, com ações semelhantes. Enfim, na busca por um nome que ilustrasse bem a história da poesia em Nova Friburgo, não haveria como não cometer injustiça ao escolher apenas um. Por isso, com a ajuda de Sérgio Bernardo, conhecemos Ibrantina Cardona, poetisa friburguense nascida no século XIX, cuja história merece ser lembrada.
Ibrantina Cardona
Ibrantina Froidevaux de Oliveira Cardona. O nome não é muito conhecido em Nova Friburgo, mas há muitas escolas e ruas no interior de São Paulo cujos nomes a homenageiam. Biografada por Antônio Arruda Dantas (Ibrantina Cardona, Editora Pannartz, 1976), Ibrantina foi uma grande poeta e ganhou renome nacional fazendo parte de várias Academias de Letras e de Institutos de Cultura de vários estados.
Nasceu em Nova Friburgo, em 1868. Ao se casar com o jornalista Francisco Cardona, mudou-se para Mogi-Mirim, no interior de São Paulo. Com ele, viveu um casamento considerado, no mínimo, "estranho”. Descrito pelo vigário da cidade, Monsenhor José Nardini, como uma pessoa de temperamento forte e violento, Francisco pode ter sido o grande responsável pela separação do casal. Uma separação também diferente: viviam na mesma casa, ele na parte da frente e ela, na de trás. O banheiro tinha duas portas; uma para ele, outra para ela. As refeições eram servidas separadamente, sendo que no fim do casamento, os almoços e jantares chegaram a ser feitos por pessoas diferentes. Francisco e Ibrantina não trocavam uma palavra. Quando necessário, se comunicavam por meio de bilhetes.
Nada disso impediu que a friburguense fosse autora de belas obras, como as publicadas nesta edição do Light. Aliás, pode ser que sua poesia tenha nascido justamente do sofrimento. Ibrantina faleceu em 1956, mas sua obra permanecerá como uma das riquezas que nasceram em nossas montanhas.
Chromo
Vem abrindo a alvorada a rósea umbrela...
A formosa aldeã de amor suspira,
e ao meigo namorado um canto inspira,
no floreo peitoril de uma janela...
Distante, pelo mar côr de safira,
traçando à tona d´agua uma aquarela,
gaivotas vêm seguindo um barco a vela...
Na serra, do marujo o canto expira...
E aqui, e ali, na várzea romanesca,
salta o alegre rebanho; um cysne preto
ondula da corrente a veia fresca.
Traça ao longe, um pintor esse esbocêto,
e a subir pela encosta pittoresco,
eu, descuidada, escrevo este soneto.
Inter Dolores
Condóe-me o teu sofrer, ó pobre desvalida,
o pranto que te orvalha a face descorada,
o teu inmenso amor e a honra profanada
provam a ingratidão de um´alma corrompida.
Seduziu-te um bandido, e a tua honesta vida
agora é um tributo à sorte malfadada.
Acerca-te a doença; e, quasi abandonada,
ao sacrificio impõe-te a luta desabrida.
Flôr tão nova e vergada ao peso da tortura,
como cahiste assim, no lodaçal profundo!...
E quem dirá que, ainda, em tua desventuraaaaa,
amas a esse monstro, e ocultas tanto ao mundo
a mingua que te leva o filho à sepultura,
emquanto a dôr de mãe te vara o peito a fundo?!
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Sérgio Bernardo Correa, poeta e contista carioca, radicado em Nova Friburgo. Ganhador de diversos prêmios literários, inclusive em Portugal, é autor dos livros "Caverna dos Signos” (poesia e narrativa), de 2005, e "Asfalto” (poesia), pela editora Selo OFF Flip, lançado em agosto de 2010 em Paraty/RJ. De 2003 a 2009, assinou a coluna literária semanal "LetraLivre”, publicada aqui no caderno Light. Em A VOZ DA SERRA, publicou dezenas de matérias sobre cultura e arte e também atuou como revisor de textos.
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Poeta, ator de teatro e professor de Língua Portuguesa e Literatura, Irapuan Guimarães acaba de lançar sua oitava publicação, "Descompasso”, uma coletânea de poemas. O primeiro trabalho deste cantagalense – "mas friburguense de coração” – foi "Abismo”, ainda na época de colégio, e seu primeiro livro foi "Redemoinho”. Irapuan é também vice-presidente de literatura do Gama (Grupo Arte Movimento e Ação).
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Nascida em São Fidélis, norte do Estado do Rio, Maria Lua é radicada em Nova Friburgo. Professora aposentada, ela é uma das grandes poetas e divulgadores da poesia em Nova Friburgo, participando de vários eventos no município, com destaque para os distritos de Lumiar e São Pedro da Serra. É autora do livro "De Lua e De Estrelas”.
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Professora, formada em Português, Francês e Literatura Francesa, Nádia Huguenin era trovadora, tendo sido presidente da União Brasileira de Trovadores – Nova Friburgo. Muito querida, ela comandava o programa "Cantinho da Nadinha”, na Rádio Friburgo AM. Casada com o radialista Ernani Huguenin, travou uma longa luta contra o câncer, vindo a falecer no dia 19 de novembro de 2008.
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Friburguense, nascido em 1926, Rodolpho Abbud foi radialista, locutor esportivo, poeta e trovador apaixonado, um dos grandes incentivadores dos Jogos Florais de Nova Friburgo. Autor de mais de cinco mil trovas e premiado em centenas de concursos, Rodolpho foi um dos mais importantes líderes nacionais da União Brasileira de Trovadores (UBT) e recebeu o título de Magnífico Trovador Honoris Causa. Faleceu em 25 de novembro de 2013.
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