Passada a tragédia, pelas ruas da cidade é quase unânime a sensação de que muitos friburguenses não aprenderam nada com o triste episódio. Amontoados de lixo continuam sendo descartados de forma irregular, seja em encostas, em margens de ruas e ao longo de rios como o Bengalas. Como consequência, as chuvas de verão, que sempre ocorrem em menor ou maior intensidade, ganham um impacto ainda maior. Chove, alaga. Seja no Centro, no Cônego, em Conselheiro, em Campo do Coelho ou em outras localidades.
Pelas ruas, flagramos motoristas e pedestres jogando papeis, plásticos, cigarros, entre outros objetos, no meio da rua. Flagramos também algumas construções irregulares que colocam a vida da própria pessoa e de terceiros em risco. “Acho que o povo não aprendeu a grande lição daquele evento. Continuamos sem responsabilidade ambiental, não compreendemos nossa geografia, não mudamos nossos hábitos de consumo e descarte ou de como dispomos nossas ocupações na cidade. Não olhamos os problemas reais de estrutura que a cidade apresenta, não olhamos as consequências das enchentes passadas que se repetem em todas as chuvas”, avalia Pedro Mineiro.
“Achava que tivéssemos aprendido alguma coisa, mas toda vez que passo, às quartas e aos domingos de manhã, pela Monte Líbano, vejo que não aprendemos nem o básico. Quando você vê os caras desentupindo as galerias do Centro, então, é assustador o lixo jogado pelas ruas da cidade”, lamenta Tamyres Ramos.
Na Praça do Suspiro, severamente atingida, foi erguido um monumento em memória das 442 vítimas fatais (segundo fontes oficiais) da tragédia de 2011, onde estão registrados os nomes de cada friburguense morto (foto). O empresário Gilberto Sader, proprietário da loja “Doces Sader”, localizada em frente à Praça do Suspiro, foi um dos responsáveis pela reconstrução da região, dentro do projeto Vamos Florir, uma parceria entre a Acianf e a prefeitura. De acordo com ele, no dia da tragédia, em choque, “a ficha foi caindo, lentamente”.
“Ao ver as imagens da praça eu ia tendo, aos poucos, noção da dimensão da tragédia. Num primeiro momento, minha única preocupação era saber dos filhos, que, já casados, tinham outros endereços. Consegui chegar à minha empresa por volta das 6h30min. Um cenário cataclístico”, lembrou.
Segundo Gilberto, a região era importante ferramenta para a recuperação da cidade. “Como empresário e amante desta cidade vi que precisava recuperar a minha empresa para manter os empregos que gero. Sabia que essa era uma forma de ajudar a minha cidade em sua recuperação. A Praça do Suspiro é uma importantíssima ferramenta turística que precisava voltar a funcionar”.
Como lição, Sader afirma que é preciso ter força para combater as adversidades que porventura aconteçam e finalizou lembrando uma frase que disse em uma entrevista, na época: “A tragédia que se abateu sobre Nova Friburgo não é maior que meu amor por minha cidade. Vou reconstruir". E conseguiu.
Defesa Civil
Em entrevista para A VOZ DA SERRA, em setembro do ano passado, o secretário de Defesa Civil, coronel João Paulo Mori, afirmou que a cidade está preparada para as chuvas de verão e a secretaria está em constante alerta. Durante a entrevista, ele falou dos serviços de aviso por SMS, e dos simulados realizados como forma de prevenção.
Segundo Mori, de 2012 a esse ano (2018) foram feitos mais de 100 simulados de evacuação de moradores em áreas de risco. Temos feito palestras nas comunidades, constantemente. Infelizmente, a participação das pessoas durante os simulados tem sido fraca. Precisa melhorar muito, mas ainda assim estamos atingindo o nosso objetivo que é deixar todos preparados.
O serviço de SMS tem sido importante mecanismo para informar e proteger a população. Mori faz um apelo para que a população não deixe de se cadastrar para receber os informes da Defesa Civil. É muito simples, basta enviar um SMS com o CEP para o número 40199 e automaticamente é feito o cadastro para receber os informes pelo celular. É um serviço gratuito. "Muita gente questiona que, às vezes, começa a chover forte e a gente não envia alerta, mas por um simples motivo: não é um alerta de chuva, é um alerta de risco. Nem sempre quando chove forte há risco de deslizamentos", diz ele.
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