Texto: Felipe Basilio / Fotos: Lúcio cesar Pereira
Em tempos de Copa do Mundo no Brasil, as atenções se desviam para as disputas dentro dos campos das novas arenas do país. Mas no Campo do Coelho, a luta dos moradores é por condições básicas de infraestrutura do bairro. Transitar por alguns pontos se tornou um verdadeiro desafio. Lama, valas, barro, mato e lixo são adversários que precisam ser enfrentados diariamente por quem mora na localidade — e que merecem cartão vermelho. A divergência de informações com a Prefeitura incomoda. São ruas que, segundo os moradores, estariam asfaltadas, e uma praça que deveria estar construída. No lugar de baralho, cartas e dominó existe um verdadeiro jogo de paciência. A Equipe de A VOZ DA SERRA visitou o Campo do Coelho e conversou com quem vive por lá para saber os dramas e mostrar os pedidos, que são muitos e, de fato, causam transtornos.
O acesso se dá pela RJ-130, que está em boas condições de pavimentação e sinalização. No entanto, ao entrar na Rua Atilio Orlando já começam a aparecer as dificuldades. Nossa equipe encontrou muita poeira vinda da pista, que não é pavimentada. Existe muito barro, que vira lama em dias chuvosos, um verdadeiro transtorno para quem passa por ali. Ana Cristina Rabelo, 49 anos, utiliza o transporte público e precisa caminhar quase um quilômetro até chegar em casa. Um trajeto que, de acordo com ela, é um transtorno. "São muitas dificuldades. Nós não temos o direito de ir e vir. É muito triste você morar em um lugar onde não há possibilidade de sair e voltar de maneira digna. Quando chove, ficamos sem o acesso às nossas casas por causa da lama”, relatou a moradora, que teve o discurso reforçado por outro morador, José Alves, 65 anos. "É difícil. A gente sai, mas não sabe se volta. É muita lama e muito buraco. A gente só quer que essa rua seja feita pra nos ajudar. Queremos apenas um bom acesso”, ponderou.
Subindo um pouco mais, nos deparamos com uma rua ainda pior, a José César Teixeira. De lá, pode-se observar tanto a parte alta do Campo do Coelho como um trecho da RJ-130. Ali também é possível presenciar o drama de pessoas que precisam conviver com armadilhas presentes por toda a rua. O caso de Maria José Simão, 59 anos, chama atenção e até emociona. Com problemas de saúde, a idosa anda com dificuldades e tem o direito de ir e vir privado por causa do péssimo estado da passagem. Entre um passo e outro, aumenta o risco de uma queda, inclusive já sofrida pela moradora. "A subida é muito difícil, já levei tombos por causa das irregularidades. Moro aqui há dez anos e sempre foi tudo desse jeito. Não posso mais andar a pé por aqui, agora só consigo subir de carro. Precisamos de melhorias”, contou.
Solange Condack, 53 anos, vive no Campo do Coelho desde que nasceu e sempre conviveu com as dificuldades. Ela relata casos de socorros improvisados a pessoas que passaram mal e não tinham condições de serem removidas in loco pela ambulância. "As pessoas passam mal aqui e não têm como serem socorridas. Aqui já teve gente precisando ir pra hospital e que o pessoal precisou tirar de casa em lençóis ou em portas daquelas lisas e planas servindo de maca porque ambulância aqui não sobe. Parece que quem deveria não faz nada por nós aqui”, questionou Solange. Ana Cristina, de forma ativa nas reivindicações do bairro, reiterou o discurso. "Em dias de chuva, carros não sobem, nem caminhões de lixo, nem ambulâncias. Ficamos praticamente isolados. Com essas dificuldades, muitas vezes pessoas que estão doentes e de cama não podem ir aos médicos, pois o estado das ruas os impede de sair. Colocar terra ou pó de pedra não resolve. Tem que ter asfalto”, pontuou.
No caminho, encontramos um espaço que seria uma praça, mas que está totalmente abandonado. Os moradores alegam que o espaço deveria estar devidamente construído e a Rua José Carlos Teixeira, asfaltada. Não foi o que encontramos, definitivamente. Existem pedidos feitos à Câmara de Vereadores e à Prefeitura, entre setembro de 2013 e janeiro deste ano, e que, até agora, não foram atendidos.
Uma alternativa para escapar do péssimo estado da rua é uma escada. No entanto, com mais de 180 degraus, a passagem não tem corrimão e não possui iluminação. Eliane Thomaz, 42 anos, é mais uma a relatar as dificuldades de quem mora no Campo do Coelho. Ela alega que a escada poderia ser mais bem aproveitada para suprir as necessidades dos moradores, enquanto o asfalto não vem. "A rua está horrível e nós usamos a escada em dias de chuva. Mas elas não têm corrimão, e como as pessoas com cadeiras de rodas vão passar por ali? Essa situação atrapalha, inclusive, as ações profissionais nossas. Produzo lingeries e os carros não têm como pegar aqui. Sem falar na nossa saúde. Tive problemas respiratórios e minha voz está comprometida por causa desta poeira”, conclui a moradora, que aguarda que o poder público tenha mais atenção e cuide mais das ruas do Campo do Coelho.
Moradores Ana Cristina e José Alves relatam as dificuldades vividas no bairro
Passar pela Rua José César Teixeira é um verdadeiro desafio para pedestres e motoristas
Valas se formam ao longo da rua, dificultando qualquer tipo de locomoção
Escada que deveria ser alternativa não tem corrimão nem iluminação
À direita, a Rua José Cesar Teixeira. À esquerda, uma praça que deveria estar construída, mas que possui apenas mato
Moradores encaminharam documento para a Prefeitura pedindo melhorias mas, até agora, nada
Maria José, 59 anos, é uma das muitas moradoras que sofrem com o abandono do local
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