O cantor Erasmo Carlos se prepara neste ano para uma comemoração muito especial: 50 anos de carreira! Aos 68 anos, ele faz questão de dizer que continua o mesmo bad boy dos tempos da Jovem Guarda e que, mais do que nunca, esta com a corda toda. Nestes 50 anos, fez sucessos históricos como Gatinha Manhosa, Festa de Arromba, lançou ano passado mais um CD que, não por acaso, se chama Rock´n Roll (indicado ao Gremmy Latino como o Melhor Álbum de Rock Nacional e publicou sua biografia Minha Fama de Mau. “Ele era o bad boy da turma e continua sendo o pai do rock brasileiro”, define a cantora e amiga Rita Lee.
Pai de três filhos com a saudosa Narinha, um avô coruja e melhor amigo do rei Roberto Carlos, ele esta cheio de planos e relembra nesta entrevista para A VOZ DA SERRA os tempos do iê-iê-iê, quando fez mais de 500 músicas. Rock, amores e sonhos é o que você confere nesta divertida entrevista.
Você voltou com tudo em meio a uma grande turnê que vai direto até o final deste ano. Como foi isso?
Não gravava um disco desde 2004. Eu estava com saudades. E também, desde os anos 80 que eu não fazia um álbum com músicas inéditas voltado só para o rock. Meus fãs me cobravam muito isso! Um disco que fosse mais de guitarras do que de teclado. Então chegou uma hora em que eu resolvi fazer. E fiz! Entretanto, é um álbum mais maduro, porque por dentro eu estou mais experiente, o que se reflete nas letras.
Podemos dizer que é a volta do rock que o consagrou?
Acho que não seria muito bem uma volta, porque ele nunca foi embora. Ele sempre esteve presente. E é um rock 100% brasileiro. Eu faço questão de frisar isso, porque não é uma cópia do rock inglês. É 100% brasileiro. Cem por cento Erasmo.
As mulheres são muito citadas neste último álbum. Tem uma faixa que você diz que a mulher é uma guitarra e em outra que, para as mulheres, o sexo é feito com os olhos. Como anda o seu coração?
Hoje eu estou sozinho, mas uso nas minhas músicas a experiência da minha vida com as mulheres que eu tive e tenho. Na verdade, apesar de eu estar sozinho e solteiro, isso não significa que eu não tenha mulher (risos).
E qual é a mulher perfeita para o Tremendão? O que ela tem que ter para conquistá-lo?
Antigamente a mulher perfeita para mim era a que estava mais perto (risos). Mas agora não. Hoje em dia para me conquistar a mulher deve se identificar comigo, me amar e ser a minha companheira. Para mim, a mulher perfeita deve ser igual mulher de motociclista: tem que andar comigo na garupa para onde eu for.
Você também fala nesta turnê das rasteiras que a vida dá na gente e também do contrário. Qual foi a maior rasteira na vida do Erasmo e o seu maior triunfo?
Quando acabou o programa da Jovem Guarda foi uma grande rasteira que eu tomei na minha vida, bem como a morte da Narinha. No lado oposto, posso citar que estou completando 50 anos de carreira neste ano, com um disco elogiado pela crítica. Ser indicado ao Gremmy Latino e lançar uma biografia, sem dúvida, é um triunfo. Esse momento mágico na minha vida aos 68 anos é uma coisa digna para que eu me torne mais feliz nesse momento.
Que balanço você faz de todo este tempo vivido?
Eu tive muitos auges e tive muitos baixos também. O importante é termos muitos altos, porque a felicidade eterna não existe. O que existe são momentos felizes. Quanto mais momentos felizes você tem, mais se aproximará da felicidade. Graças a Deus tenho tido muitos auges (risos).
Qual ensinamento você carrega que será inesquecível?
A modéstia e a humildade. Com ela desvendo montanhas, rios e vales. Descubro florestas e o desconhecido. E amor, lógico! Este não pode faltar em minha vida de jeito nenhum.
Os fãs podem esperar outros CDs com músicas inéditas?
Claro, bicho! Daqui há pouco meu último CD completa o ciclo de dele. E aí eu farei um novo e seguirei a minha vida.
De que maneira você recebeu a notícia de que o CD havia sido indicado ao Gremmy Latino? Como foi?
Eu fiquei muito feliz! Eu estava ensaiado quando chegou a notícia. Foi uma festa grande entre eu e os músicos. Nós comemoramos muito. Do nada surgiu a notícia, sem esperarmos. Ficamos muito surpresos e contentes ao mesmo tempo.
Qual a fórmula do sucesso?
Eu sou um cara sempre positivo. Como sou do bem, nunca dou brechas às coisas ruins e negativas. Penso sempre que vai dar! Sempre que é possível! Sempre que eu vou conseguir! Tem sido sempre assim na minha vida. Nem sempre a gente consegue as coisas, mas quando eu não consigo, procuro sempre dar um jeito de tirar partido disso, tirar proveito de alguma derrota para fazer uma vitória.
Você lançou o seu livro Minha Fama de Mau. Histórias com Roberto Carlos, Tim Maia e Chico Anysio. Poderia contar alguma das recordações que lhe vem à cabeça neste momento em relação ao Tim?
Lembro quando o Tim me ligava e colocava a música Descobridor dos Sete Mares na maior altura e dizia: “Escuta aí safado! Aprende a fazer música! Isso sim é música!” Ele me chamava de branco comercial. Foi ele quem me ensinou três acordes quando éramos adolescentes. Ele me ensinou o Ré maior, Lá maior e o Mi. Então ele dizia: “Pô, eu te ensinei esses três acordes e você só faz música de bosta. Mas eu tenho que admitir que são bostas muito boas e bem feitas.”
E com a Wanderléa, tem alguma?
Um dia, com o consenso de todos da turma, cheguei para ela e disse: “Léa, o pessoal vai nos homenagear. Eles passaram numa floricultura e compraram dois lindos buques de testículos do campo.” Ela, com cara de curiosa, perguntou sem a mínima maldade: “Tes... o quê? Que flor é essa?” (risos)
Manda mais uma...
Eu morava com o Jorge Ben Jor no Brookli, em São Paulo. Uma vez precisei comprar um remédio para gonorréia (doença venérea) e eu fiquei com vergonha de dizer na farmácia que era para mim e falei que era para um amigo meu. O farmacêutico deduziu que era o Jorge e toda vez que passava por lá, o cara falava: “E aí Jorge, melhorou? Qualquer coisa fala comigo que aumento a dose. (risos)
Neste ano você completa 50 anos de carreira. Alguma coisa em mente para essa comemoração?
Não, bicho, eu não vou fazer nada, não! Os outros é que tem que fazer pra mim! O Roberto, por exemplo, não fez nada. Os outros é que fizeram pra ele.
Certamente ele estará junto com você nesta homenagem...
No maracanã, os outros fizeram uma homenagem pra ele da qual eu participei. Mas no meu show será diferente, pois eu mesmo que farei uma homenagem pra ele. Só não posso dizer como será. Só indo ao show pra ver.
Como é o Erasmo sem a guitarra? O que ele faz e como ele aproveita a vida?
Bicho, ele esta pensando. Quando eu largo a guitarra eu continuo com o meu pensamento. Meu trabalho não é do tipo que deu 18 horas, então fecharei a porta do escritório e irei pra casa pensando: “agora eu vou me divertir”. Não é assim. Meu trabalho eu carrego comigo pra onde vou. Na verdade, eu sou o meu trabalho.
Como é a sua relação com os filhos e netos?
Maravilhoso, bicho! Eu não sou pai dos meus filhos. Eu sou amigo! Aqui na minha família, a hierarquia não se mede pela força, pelo poder ou pela idade, mas sim pela sabedoria. A gente se dá muito bem! Eu sou amigo deles!
Quem é teu ídolo, sua referência?
Eu só tenho dois ídolos na minha vida: Elvis Presley e João Gilberto. E tem um grupo que eu admiro mais do que todos que você possa imaginar: Os Beatles.
Tem alguma coisa que você ainda não fez e queira fazer em sua vida?
Tem muita coisa, bicho. Eu tinha um sonho de escrever um dia uma ópera popular brasileira. Uma história musicada. Isso pode sair. Iria demorar bastante, mas seria uma consagração pra mim. Seria a minha realização pessoal.
Qual conselho você daria para os seus fãs que desejam seguir a estrada da música?
Acredite nos seus sonhos! Mas tenha o bom senso de desistir se você achar que não tem talento. Porque tem muita gente que não tem o mínimo talento e fica insistindo a vida inteira em fazer aquilo.
Para terminar, Tremendão, gostaria que você deixasse um recado para as leitoras de AVS!
Quem sabe um dia eu não encontro alguma de vocês no supermercado, numa viagem, a gente dá um esbarrão, as sacolas cairão no chão, e quando nos abaixarmos pra apanhá-las nossos olhares se encontrarão e viveremos um romance lindo e maravilhoso! Quem sabe...
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