Flávia Namen
O ano de 2013 está sendo especial para o músico friburguense Filipe Rocha. Tudo por conta do lançamento de seu primeiro disco solo, "O Sol Nascerá”, que chegou ao mundo virtual em agosto passado e vem agradando em cheio os amantes do rock brasileiro e da MPB. O álbum é a concretização de um antigo sonho do músico, que em 2008 se uniu ao amigo e produtor audiovisual Bruno Oliveira para iniciar o projeto, viabilizado com recursos próprios de ambos. Passados cinco anos de muitas gravações e mixagens, o trabalho foi finalizado e revela todo o talento e musicalidade do jovem artista.
Para o disco Bruno Oliveira convidou Bruno Pederneiras para gravar e arranjar as guitarras e Anderson Erthal para os teclados. Gabriel Martins, amigo de Bruno desde os tempos de faculdade e que possui um estúdio chamado Clube do Som, em Niterói, apresentou o baterista André Marques ao produtor. As guitarras e baixos foram gravados por Pederneiras em seu homestudio (1/4 Estúdio). As baterias foram, em seguida, gravadas por André Marques no Clube do Som em Niteroi, e por último as vozes foram gravadas no Hiroshi Estúdio e as percussões no MB2 Studio. Todas as músicas foram mixadas e masterizadas por Bruno Oliveira na Artefá (www.artefa.com.br), em Nova Friburgo.
Com oito músicas, o primeiro disco solo de Filipe reúne sete canções de sua autoria e uma de seu pai. São elas: "O Sol Nascerá”, "Selvagem Beleza”, "Segundas Intenções”, "Maluquinha”, "Chapeuzinho”, "Seus Olhos”, "Caledônia” e "Bamba”. Vale a pena conferir o trabalho, que revela mais um talento friburguense no cenário musical. As canções podem ser ouvidas através do link soundcloud.com/filipe-rocha-2013.
Uma trajetória de destaque no cenário cultural carioca
Nascido em Nova Friburgo no ano de 1978, Filipe Rocha começou a aprender violão, canto e bateria com seu pai, Tobi, ainda criança, em 1982. Tobi foi integrante da primeira banda de rock de Nova Friburgo nos anos 60 e também da banda Spectrun, que compôs a trilha sonora de "Geração Bendita” (1971), considerado o primeiro filme hippie brasileiro.
Em 1990 Filipe se mudou para o Rio de Janeiro, ingressando na escola de música Villa-Lobos, onde cursou diversas oficinas musicais. Em 1993 se uniu a percussionistas e formaram o grupo cultural Vozes da África, misturando elementos capoeirísticos afro-brasileiros com a melodia e harmonia do violão e da flauta transversa. Durante três anos Filipe se apresentou em hotéis e eventos ligados à Federação Carioca de Capoeira. Nesta mesma época começou a escrever suas primeiras canções. No ano de 1999 o artista mudou-se para a cidade de Nova York (EUA), onde estudou violão na East Side School of Music. Lá também se apresentou em casas brasileiras, tocando clássicos da música nacional.
De volta ao Rio de Janeiro em 2001, Filipe entrou para o curso técnico de samba e choro na UFRJ ministrado pelo instrumentista, arranjador e compositor Adamo Prince. Montou em seguida o grupo Espinha de Peixe, seu primeiro trabalho independente e autoral, que por quatro anos foi destaque no cenário cultural carioca. O grupo se apresentou em casas como Fundição Progresso, Ballroom, Casa Rosa, Teatro Odisseia, Casarão Cultural dos Correios e Centro Cultural Ernesto Che Guevara, entre outros. Participou de festivais de músicas, estando sempre entre finalistas. Filipe Rocha também foi convidado para diversos programas de rádio e TV cariocas, como o "Atitude.com” (TVE) e a "Rádio Globo” (Francisco Carioca).
Produtor relembra parcerias e as etapas de gravação do trabalho
"Eu conheço o Filipe Rocha desde criança. Crescemos juntos e vivemos uma infância fantástica no Cônego. Ele tinha um estúdio subterrâneo em casa e estávamos sempre lá tirando um som com amigos. Nessa época, o Filipe já se destacava com suas composições. Todos sabiam cantar as letras, pois as músicas eram autênticas e fáceis de serem lembradas. Depois cada um foi para o seu lado. O Filipe passou um tempo em Nova York e depois se mudou para o Rio de Janeiro de vez. Eu fiquei um pouco mais em Friburgo e na sequência fui cursar Produção Fonográfica no Rio. Nosso reencontro profissional aconteceu quando produzi o trabalho da banda Espinha de Peixe, na qual o Filipe tocava. Quando terminei a faculdade voltei para Nova Friburgo e montei a Artefá, minha produtora audiovisual. Na época fui procurado pelos produtores do filme Geração Bendita, que tinham investido uma grana na digitalização do filme e só então perceberam que o áudio estava quase perdido. Sabiam que eu estava ligado a novas tecnologias e me contrataram para fazer a restauração. Tobi (pai do Filipe) fora uma figura-chave para a trilha sonora do filme, com sua banda Spectrun. O disco da Spectrun, a trilha do filme, é um objeto cobiçado por colecionadores do rock dos anos 70 e vendido a preço de ouro. Em seguida voltei para o Rio. Enquanto me dedicava a um projeto na Mesosfera Design, produtora do Gringo Cardia, colocava para frente o trabalho solo do Filipe. No meio de toda a correria da vida no Rio de Janeiro, o que tornou possível o álbum "O Sol Nascerá” acontecer foi a forma com que foi realizado: virtual. Todo o trabalho foi feito com pessoas trabalhando em cidades diferentes. Quem ouve as músicas não consegue imaginar que cada instrumento foi gravado em um local diferente... E mais: os músicos se conheceram somente depois das bases gravadas. Até hoje não conhecemos pessoalmente o baterista André Marques. Temos um amigo em comum, o Gabriel Martins (Gabirú), que tem um estúdio em Niterói e recebeu as bases e chamou o cara para tocar. Foi uma grande surpresa. Depois descobrimos que ele tocava com a Preta Gil. Com o Nobru (Bruno Pederneiras) foi a mesma surpresa. Quando recebi as bases de guitarras fiquei alucinado. O cara tinha entendido o conceito do trabalho e ido além. Descobri só depois que ele tocava com Lobão e Gabriel o Pensador. Depois conheci o Hiroshi enquanto trabalhei com o Gringo. Um japa virtuosi que sabe tudo sobre música e tecnologia e mais um pouco. Ele nos ajudou a gravar as vozes em seu home estúdio nos intervalos de seus ensaios. Ele é tecladista do Lulu Santos e estava sempre muito ocupado, mesmo assim, disponibilizava pra gente seu estúdio, na camaradagem, para gravarmos os vocais. Algumas bases de teclados foram gravadas por um músico friburguense, Anderson Erthal, não sei nem se ele se lembra disto pois deve fazer uns 4 anos. Nos final foram horas e horas de pós-produção até o lançamento virtual feito em agosto de 2013 no SoundCloud. Acho que o grande lance deste trabalho foi a nossa persistência e vontade de realizá-lo. Foi uma curtição, uma conquista para nossas vidas e carreiras. Nos propomos, sem pretensões comerciais, a escalarmos uma alta montanha e, por fim, conquistamos o cume. Esta sensação de vitória ficará para sempre dentro de nós, assim como o trabalho que pode ser ouvido na íntegra, gratuitamente, na internet.”
Bruno Oliveira, parceiro e produtor audiovisual do projeto
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