Se é verdade que a primeira impressão é a que fica, então os visitantes que chegam a Nova Friburgo através da serra não têm muito do que reclamar. Natureza impactante, casas antigas e de arquitetura europeia, inúmeras opções gastronômicas e uma atmosfera tranquila, tipicamente serrana, compõem entre Theodoro de Oliveira e Mury uma apresentação que — alguém poderia dizer — corresponde mais à Nova Friburgo de décadas passadas do que à agitada cidade espremida entre montanhas dos dias atuais.
A bonita paisagem nas janelas de quem passa, no entanto, também esconde seus problemas. A vasta oferta gastronômica, por exemplo, contrasta com a ausência de opções de lazer para jovens e crianças do bairro. "Aqui nunca teve uma quadra”, reclama o comerciante Rafael Diógenes da Costa. "A coisa de que eu mais sinto falta aqui é de uma área de lazer. Não tem uma praça, não tem uma quadra. Mury não deveria ser apenas um local de passagem para quem viaja, pois é o cartão de visitas da cidade.”
Diógenes Eli da Costa, também comerciante, concorda e complementa. "Aqui na Avenida Hamburgo, por exemplo, não existe a necessidade de duas pistas para o fluxo de veículos. Uma delas poderia perfeitamente ser transformada em área de lazer para a população, rendendo uma área bastante ampla”, sugere.
Outro grande problema do bairro apontado por todos os moradores entrevistados é relativo ao trânsito — e, mais especificamente, às altas velocidades praticadas por motoristas que trafegam pela RJ-116, inclusive ao volante de ônibus e caminhões. "Aqui a gente precisava de um radar, com certeza”, defende Diógenes Eli da Costa. "Porque os motoristas não respeitam o sinal, carretas carregadas passam em alta velocidade e se precisarem frear não conseguem. A gente sabe que as pessoas só passam a agir corretamente quando são atingidas no bolso, então acredito que a instalação de um radar resolveria o problema.”
O taxista Osmarino Blaudt concorda em relação ao problema, embora defenda uma solução diferente. "O sinal de trânsito aqui não é respeitado, o ideal seria que houvesse alguns quebra-molas, para obrigar esses caminhões a reduzirem a velocidade. Nós até já pedimos a instalação de pelo menos dois nesse trecho central do bairro. Aqui tem muito atropelamento de cachorro e batidas de carro. Os motoristas não respeitam nada. Um dia desses uma carreta atravessou direto e por muito pouco não atropelou uma mulher. As pessoas veem o sinal amarelo e aceleram, em vez de frear”, reclamou. "Sem falar nos bueiros, muito fundos em relação ao asfalto. Várias pessoas já caíram por causa disso. Há poucos dias uma mulher passou com a bicicleta em cima de um bueiro e caiu na beira da pista. Ficou toda ralada. Até para a gente fazer uma manobra simples por aqui é muito perigoso.”
Jair Figueira, comerciante, é outro que reclama dos riscos provocados pela imprudência dos motoristas. "Isso aqui é muito perigoso. Fim de semana então... A coisa piora muito quando o movimento aumenta. As pessoas passam muito rápido, inclusive as carretas. Entre o quebra-molas e o radar, eu digo que aqui precisamos dos dois. E também seria bom ter um guarda para fiscalizar. Iria multar o tempo todo, porque ninguém respeita o sinal.”
A despeito do trânsito e da carência de áreas de lazer, todos os moradores fazem questão de ressaltar as virtudes do bairro, repetindo sempre os mesmos adjetivos: tranquilo, arborizado, bonito e pacífico. De fato é raro observar qualquer resquício de lixo ao longo das ruas, e nenhum morador ouvido apresentou qualquer queixa em relação à violência ou qualquer outro tipo de problema.
Todavia, são as próprias qualidades de Mury que tornam os problemas tão pontuais e relativamente fáceis de resolver. Não apenas por ser o "cartão de visitas da cidade” e um lugar bonito para quem passa, mas acima de tudo por ser um distrito com vida própria e muito a oferecer para quem ali fica, os problemas do trânsito e a falta de áreas de lazer são questões que merecem ser solucionadas o quanto antes.
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