Mury: alagamento foi causado por cabeça-d’água, diz Defesa Civil

De acordo com secretaria, fenômeno foi “rápido e inesperado”. Município está em estado de alerta
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
por Jornal A Voz da Serra
O campo de futebol do centro de Mury tomado pela lama na manhã de segunda-feira (Foto: Henrique Pinheiro))
O campo de futebol do centro de Mury tomado pela lama na manhã de segunda-feira (Foto: Henrique Pinheiro))

O temporal que começou a causar transtornos ainda na última sexta-feira, 11, com alagamentos e queda de árvores voltou a assustar muitos friburguenses neste fim de semana. No último domingo, 13, quem mora no distrito de Mury ou possui estabelecimento comercial no local, por exemplo, passou a madrugada retirando lama e tentando salvar móveis e objetos atingidos pelo temporal de sábado, 12. Ao todo, de acordo com a Defesa Civil, 60 imóveis precisaram ser vistoriados na localidade. 

Apesar de muitas moradias terem sido invadidas pela água em diversos pontos do distrito, como a Avenida Hamburgo, na Rua Oscar Augusto Ferreira os estragos foram bem maiores. Todas as casas da pequena rua sem saída foram inundadas. Alguns imóveis, inclusive, foram danificados pela força da enxurrada. Como é o caso do depósito do sacoleiro Marcelo Lima Ferreira. “Tenho esse depósito há oito anos e cheguei a instalar uma comporta de ferro para imprevistos com enchentes. Mas nunca pensei em ver algo assim. Estava em casa quando o rio começou a subir, resolvi vir pra cá para colocar as mercadorias para cima. Enquanto estávamos tirando tudo a água começou a subir e gerar correnteza. De repente a força da enxurrada foi tanta que levou metade da parede, arrebentou os fios de energia, causou um curto e quase morremos eletrocutados. Só deu tempo de correr. Por sorte, só perdi duas sacolas de roupa porque o restante deu tempo de colocar num lugar alto”, contou Marcelo. 

Arrecadação de donativos

Com o objetivo de ajudar as famílias atingidas pelas chuvas do último sábado, 12, diversos voluntários e instituições de Nova Friburgo deram início a uma campanha para arrecadação de donativos. Além de escolas, praças e coretos da cidade estão sendo utilizados como ponto de coleta de doações. Entre os pedidos estão água mineral, alimentos não perecíveis, produtos de higiene pessoal e de limpeza. Objetos como móveis, roupas, calçados e eletrodomésticos, em geral, também estão sendo aceitos.

A Escola Rumo Certo, no centro de Mury, está recebendo doações de segunda a sexta-feira, das 7h30 até as 17h30. Equipes da Cruz Vermelha também estão recolhendo donativos em sua sede, situada na Praça Getúlio Vargas, 92; no coreto da Praça Carlos Maria Marchon, em Lumiar; e no coreto da Praça João Heringer, em São Pedro da Serra, das 9h às 14h30. 

A poucos metros dali, o mecânico William Jandre Verly ainda não conseguiu contabilizar os prejuízos causados pelo temporal. “Eu estava em Conselheiro Paulino quando soube que minha oficina estava inundada. Quando cheguei aqui não tinha mais o que fazer. Minha casa e o caminhão de reboque da oficina também foram invadidos pela água, perdi tudo. Sinceramente, nem calculei os estragos ainda”, desabafou William. 

O transbordamento do rio também invadiu o posto de policiamento comunitário da PM, em Mury. A água molhou colchões e cobriu o interior da unidade de lama. O sistema elétrico do imóvel não foi afetado, mas a enxurrada atingiu uma viatura da polícia e prejudicou o motor do carro. “Não tivemos grandes prejuízos. Já limpamos o posto e o policiamento no local já está normalizado, mas os policiais não estão dormindo na unidade porque os colchões foram destruídos pela lama”, explicou o comandante do 11º BPM, coronel Carlos Eduardo Hespanha. 

De acordo com a Defesa Civil, o alagamento em Mury foi causado por uma cabeça-d’água — aumento súbito do volume de água de um rio. O fenômeno aconteceu na noite do último sábado, 12, por volta das 22h, na localidade de Macaé de Cima e durou pouco mais de 30 minutos, tempo suficiente para causar os estragos. 

“Foi algo repentino, rápido e inesperado. Estamos em alerta 24 horas e já estávamos fazendo o acompanhamento da chuva, mas os nossos radares não previram o fenômeno. Foi uma cabeça-d’água na cabeceira do Rio Santo Antônio, que fez o volume de água do rio subir rapidamente e chegar a Mury com grande força”, explicou o secretário municipal de Defesa Civil, coronel João Paulo Mori.

Até o último domingo, 13, as localidades mais atingidas pela chuva foram Mury, Theodoro de Oliveira e Macaé de Cima. Na localidade de Serra Nevada foram constatados três deslizamentos. Em Theodoro foi registrado um deslizamento e em Macaé de Cima outros três. Em Salinas, algumas lavouras também foram cobertas pela água. 

No loteamento Jardinlândia, no Tauru, devido à chuva, muita lama desceu da obra de contenção que está sendo feita em uma encosta no bairro. A empresa responsável pela construção informou que já tomou as providências necessárias para que não ocorram mais deslocamentos de terra.

Mas ainda segundo Mori, o tempo deve começar a melhorar a partir desta terça-feira, 15: “Estamos em estado de alerta e se confirmada uma pancada de chuva forte, acionaremos as sirenes, mas a previsão é de melhora do tempo a partir de terça-feira”.

Segundo a Defesa Civil, em nenhuma das áreas atingidas foram registradas vítimas e não há desalojados e nem desabrigados na cidade. Vale destacar ainda que, embora o alagamento e os deslizamentos tenham sido na região sul do município, o teleférico interrompeu suas atividades no domingo, 13, e permanecerá sem funcionar até a cidade sair do estado de atenção, obedecendo a ordens judiciais.

Até o fim da tarde desta segunda-feira, 14, ao menos 31 ocorrências haviam sido registradas. De acordo com a Defesa Civil, os casos foram registrados nas localidades de Jardim Califórnia, São Cristovão, Prado, Cascatinha, Debossan e Mury e são de vistorias em árvores, muros, deslizamentos e rachaduras em casas. A Defesa Civil atende ocorrências pelo telefone 199. 

Trânsito na RJ-116

A concessionária Rota 116 S/A, que administra a rodovia RJ-116, informou na manhã desta segunda-feira, 14, que está realizando reparos no trecho entre o quilômetro 65 a 78. Por causa das fortes chuvas que atingiram Nova Friburgo na noite do último sábado, 12, e na madrugada de segunda-feira, 14, muitos galhos de árvores e terra das encostas tomaram parte da pista. A empresa informou que, no entanto, nenhum ponto da rodovia funciona em sistema pare e siga.

De acordo com a concessionária, equipes também trabalham na limpeza e desobstrução das redes de drenagem e canalização; e um caminhão-pipa auxilia os operários na altura do quilômetro 72, em Mury, local mais atingido pelas chuvas de sábado e domingo. “Os motoristas que se deslocam pela RJ-116 devem seguir em baixa velocidade, respeitar as placas de sinalização e parar em locais seguros em caso de chuva forte, aguardando a melhoria do tempo para prosseguir viagem”, recomenda a concessionária.

Todas as obras na RJ-116 estão paralisadas devido ao mau tempo. Os ônibus com direção a Macaé e Rio das Ostras continuam seguindo por Cachoeiras de Macacu e o tempo de viagem aumentou em cerca de 1h30. Ainda não há previsão de retorno da circulação pela Serramar. A rodovia que liga Nova Friburgo a Casimiro de Abreu foi comprometida pelo deslizamento de encostas. 

Abastecimento de água e energia

Devido às fortes chuvas, a concessionária Águas de Nova Friburgo informou que o manancial que abastece a Estação de Tratamento de Água (ETA), em Debossan, foi atingido. Por isso, o Sistema Debossan está interrompido para manutenção local e as equipes continuam trabalhando para que a retomada do abastecimento seja iniciada o mais rápido possível. Ainda segundo nota enviada pela concessionária, as localidades de Mury, Ponte da Saudade, Perissê, Alto das Braunes, Cordoeira, Paissandu e Olaria podem ser afetadas pelo dano. A empresa ainda informou que colocou caminhões-pipas à disposição dos usuários através do telefone: 0800 026 0008. Os chamados são atendidos por ordem de ocorrência e/ou prioridade.  

A concessionária de energia, Energisa,  informou que as fortes chuvas ocasionaram um volume maior de ocorrências, causadas principalmente por árvores e telhas que caíram sobre a rede de distribuição. As localidades mais afetadas, ainda segundo a empresa, foram Centro, Amparo, Olaria e Nova Suíça. O fornecimento de energia nessas áreas já foi normalizado. 

  • Morador mostra a marca que a água deixou (Foto: Henrique Pinheiro)

    Morador mostra a marca que a água deixou (Foto: Henrique Pinheiro)

  • (Foto: Henrique Pinheiro)

    (Foto: Henrique Pinheiro)

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