Na perigosa atmosfera da sedução
O filme Crepúsculo (Twilight) é uma boa pedida para quem quer assistir a um cinema pipoca. Baseado no primeiro de uma série de livros escritos por Stephenie Meyer, todos na lista de mais vendidos, Crepúsculo é a prova de que os vampiros continuam exercendo fascínio até hoje, principalmente entre as mulheres.
Mas, a que se deve essa supremacia vampiresca na imaginação mitológica ocidental? Em primeiro lugar, a maioria das histórias de vampiro se desenvolve em torno da ideia da sedução. O vampiro não ataca a sua vítima; ele a seduz, ele é convidado a entrar em sua casa - e é ela, a vítima, quem inclina o pescoço para ele, praticamente pedindo para ser mordida.
E fica, para o leitor/espectador, uma angústia no ar, a dúvida entre continuar pertencendo à espécie humana comum ou entrar para a rede alternativa monstruosa imortal. É tentador... ser imortal. Mas o vampiro é, entretanto, um imortal marginal, alheio à sociedade, um ser vagando através dos tempos, assistindo a todos morrerem. Para fins práticos de entretenimento, devemos deixar a crítica um pouco de lado, pois se de fato os vampiros existissem, dado que estamos em 2009, a humanidade inteira já teria se tornado vampiro.
Crepúsculo tem, no fundo, um típico enredo de filmes adolescentes: a menina, Bella, vai morar com o pai que ela mal conhece, em uma cidade que ela mal conhece. Na nova escola as pessoas são simpáticas com ela. Todas, exceto Edward, o bonitão do lugar que, de qualquer forma, não conversa com ninguém.
Bella começa a se aproximar de Edward e, depois de perceber certos indícios bizarros, resolve fazer uma pesquisa no Google e chega à conclusão de que ele é um vampiro! Na visão da autora, os vampiros são seres que atacam cruelmente suas vítimas, matando-as para se alimentar com todo o sangue. A pessoa só se torna vampiro, ainda segundo Meyer, de uma determinada maneira específica.
Mas Edward faz parte de uma família de vampiros com consciência social, com sentimento de culpa, que decidiu beber sangue somente de animais. Entretanto, Bella desperta em Edward seus instintos mais primitivos de caçador. Ela, por sua vez, também se sente terrivelmente atraída por ele, mesmo conhecendo sua natureza monstruosa. É nesse ponto que Crepúsculo continua mantendo a tradição das histórias de vampiros, graças a esse aspecto tão caro às mulheres: a perigosa atmosfera da sedução. No momento em que Edward confirma a Bella que é mesmo um vampiro, diz ele:
- Eu fui designado para matar.
- Eu não me importo – responde Bella.
- Eu matei pessoas antes.
- Isso não tem importância.
Uma amiga minha disse ter lido a série completa de Crepúsculo porque o ator que interpreta Edward é “totalmente lindo”. Argumentei afirmando que isso não fazia muito sentido, porque livros não tinham imagens. Ela me respondeu dizendo que Edward é lindo “para além da razão”.
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