Nosso tempo
“Discos são parecidos com namoradas. Podemos nos encantar pela pessoa logo de cara, mas, dependendo do desenrolar da coisa, perdemos o interesse logo
depois: namoros de verão, hits de verão!”
Tem gente que diz que gostaria de viver na época dos Beatles para acompanhar o lançamento dos álbuns, para sentir o gostinho de ver nascer uma obra-prima. Eu não. Os álbuns dessa época continuam existindo até hoje e tem muita coisa boa surgindo nesse fim de década: MGMT, Animal Collective, of Montreal, Antony and the Johnsons, Vampire Weekend, Arcade Fire, Feist, e um monte de outras coisas.
Esse é o nosso momento e, de fato, há discos lançados de 2005 para cá que são tão bons quanto os de antigamente, mas que não têm ainda o respaldo social de um Led Zepellin, nem o suporte de uma grande mídia. E como a era da cultura de massas está mesmo acabando, esse discos ficam lá em algum lugar do oceano musical internético, no meio das bilhões de outras coisas. Se não há mais artistas com legiões de fãs ao redor do mundo, é porque o leque de opções aumentou muito.
Nesses últimos dias, o álbum que mais tem me comovido é In Ear Park, do Department of Eagles. Ele é mais denso e sério se compararmos com as melodias pop assobiáveis do MGMT, por exemplo. Eu demorei bastante para assimilá-lo, mas agora estou tão fascinado que as músicas não saem da minha cabeça. Eu até tentei, mas não consegui escrever sobre o outro assunto que eu havia pensado para essa semana. Eu só quero saber de Department of Eagles!
(Discos são parecidos com namoradas. Podemos nos encantar pela pessoa logo de cara, mas, dependendo do desenrolar da coisa, perdemos o interesse logo depois: namoros de verão, hits de verão! Mas existem outras que talvez nem demos muita bola no início, mas que gradativamente ganham nosso interesse, até povoar completamente nossa mente e passamos então a sentir a necessidade de estar com elas. Novamente a comparação com o oceano: não poderíamos supor, da superfície, a sua profundidade).
Conheci o Department of Eagles por acaso. Eu estava em um site de música independente quando li a notícia de que uma canção da banda havia sido usada como trilha sonora de um comercial japonês estrelado pelo Brad Pitt. A matéria tinha um tom discreto de graça, já que o Department of Eagles não é lá um grupo muito conhecido pelo grande público, mas, no comercial japonês, a música deles estava lá, vendendo um produto junto com Brad Pitt.
Acho que você, leitor, pode estar lendo essas palavras aqui querendo saber do que eu estou falando, querendo ouvir um pedacinho do disco (confira em www. myspace.com/deptofeagles - uma pena que minhas favoritas, além de No One Does It Like You, não estejam lá). Você pode, apesar disso, não achar nada demais nas músicas, mas isso não é o mais importante. O importante é que vivemos em uma época em que praticamente tudo pode ser acessado com poucos cliques, logo, você certamente encontrará muita coisa do seu interesse. É necessário somente espírito garimpeiro para achar o ouro na água turva.
Legal também é que ao mesmo tempo em que nos foi concedida essa possibilidade de criarmos nossa própria mídia, surgem cada vez mais artistas com personalidades e sonoridades diversas. A busca pela originalidade, que tanto marcou o período moderno, não faz mais sentido hoje em dia, pois não há mais caminho possível a ser traçado não ser o de misturar elementos. O que para mim é muito legal. Acho que o lema da pós-modernidade deveria ser: tudo já foi feito, mas não do seu jeito. Eu busco autenticidade não coisas, não a suposta originalidade.
Gosto de pensar que, no futuro, alguns jovens ficarão imaginando como era viver em nossa época.
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