Multitude - 28 de novembro

Por João Clemente Moura
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Descentralizar

O problema do trânsito em Nova Friburgo corresponde em boa parte aos seus problemas de fluxo; corresponde a uma logística e estrutura centralizada do nosso município. Estamos centralizados demais: tudo desemboca ou ao menos passa pelo centro.

Acho (e me baseio aqui somente nas minhas impressões pessoais) que as recentes mudanças no trânsito de Nova Friburgo deram certo. O Paissandu, por exemplo, havia se tornado um inferno caótico e irritante, paralizando tudo no centro. Agora o trânsito lá até que flui numa boa.

Nos últimos dois anos houve um súbito aumento no número de veículos em nosso município e no Brasil em geral, fruto do crescimento econômico do país. Dada essa relação, cabe a nós perguntar: como fica a questão do trânsito, já que desejamos ansiosamente por mais e mais crescimento econômico? Nossos sonhos implicam mais engarrafamentos? Esta é uma consequência inevitável do progresso?

Para analisar essa questão, quero propor aqui uma formulação de maior abrangência – na qual o trânsito estaria inserido – a partir do conceito de fluxo. Fluxo pode ser de pessoas, mercadorias, ideias, capital.

É uma questão complexa, histórica, que não se resume a Nova Friburgo e que certamente não se resolve com facilidade. Mas há pelo menos um ponto do problema que podemos trabalhar agora e que diz respeito ao sistema de integração do transporte público.

Um dos argumentos levantados pela empresa de ônibus para justificar o polêmico aumento das passagens fora a implantação do sistema de bilhetagem eletrônica. No Rio de Janeiro esse sistema funciona sem integração, ou seja, a passagem vale para uma viagem só. Entretanto, é possível programar o sistema para validar passagens por determinado período de tempo, dando assim oportunidade aos passageiros para fazerem integração em qualquer ponto do município que seja conveniente. Não será mais necessário ir à rodoviária urbana para se fazer isso. Tampouco será necessário construir novas rodoviárias. Basta adotarmos um sistema de integração que não seja centralizador, mas sim em rede (rizomático). 

Hoje, se você está em Amparo e trabalha em Conselheiro, você deve seguir até a rodoviária urbana para pegar outro ônibus. Se você está em Varginha e quer ir para Theodoro, a mesma coisa. O sistema eletrônico de integração parece ser a solução mais racional para resolver esse tipo de problema. Além de dispensar o triste confinamento da rodoviária, sua adoção poderá, além disso, aumentar o número de usuários de ônibus, visto que este meio de transporte passará a ser também uma alternativa interessante para aqueles que possuem automóveis, mas que os utilizam diariamente somente porque andar de ônibus é uma experiência pior ainda.

Por último e não menos importante, a descentralização do sistema de integração do transporte público, se adotada, é um fator contribuinte para o crescimento da economia nas localidades afastadas do centro. É um dos pontos fundamentais para pensarmos a descentralização do fluxo em nosso município. Descentralizar e desenvolver a periferia são a mesma coisa.

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