O que ganhamos e o que perdemos
"Não acho que a sociedade está evoluindo, que a vida está melhor atualmente ou algo do tipo. Acredito apenas que o mundo está diferente"
Alguns leitores comentam comigo que a coluna Multitude representa para eles uma espécie de defesa dos tempos atuais. De certa forma é sim, pois muita coisa acontece agora e não espero respaldos sociais ou históricos para afirmar algo que considero notável. Penso também que em Nova Friburgo tudo demora muito para acontecer, de forma que é uma motivação política também; é minha vontade de contribuir com a cidade, informá-la do que acontece no mundo.
Porém, não acho que a sociedade está evoluindo, que a vida está melhor atualmente ou algo do tipo. Acredito apenas que o mundo está diferente. Gostaria de usar como exemplo – como de praxe – o universo musical para mostrar como as coisas mudaram para melhor, mas também como muito se perdeu nessa mudança. Contarei minha historinha a partir da época do LP e do CD. (Quem quiser apreciar a época anterior, leia o excelente artigo de Walter Benjamin A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Não se assuste com o título!)
Há quinze anos era muito difícil conseguir músicas. Hoje em dia, qualquer garoto de uma pequena cidade do interior do terceiro mundo, com acesso à internet, pode ter a discografia completa de diversos artistas. Já para os artistas esta conjuntura trouxe a vantagem da distribuição gratuita das suas músicas, garantindo a eles uma boa agenda de shows.
Mas, o que se perdeu? Para início de conversa, perdemos uma parcela de romantismo. Como era bom conseguir um álbum raro, tirá-lo do plástico, colocá-lo no aparelho, sentar e ouvi-lo. De certa forma, isso forçava o ouvinte a prestar mais atenção na música. Lembro-me de um amigo oculto no qual ganhei um CD do Pink Floyd. Na primeira audição achei estranho, mas, como eu não tinha muitos discos em casa, ouvi-o algumas vezes e acabei gostando muito. Foi um aprendizado. Hoje em dia a oferta de músicas é tanta que a maioria das pessoas acaba descartando o que não causa boa impressão logo de cara. É tão fácil... ouve-se outra coisa.
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