A árdua tarefa de atravessar a rua em Nova Friburgo
O que é capaz de mudar o coração dos homens? Tem gente que acredita tão fortemente na natureza humana que acaba caindo num pessimismo conformista: “o homem não está nem aí para o seu próximo” e coisas do tipo. Eu, por outro lado, gosto de pensar que muitas dessas coisas “do ser humano” são meras construções sociais, são meros costumes.
Antigamente podia-se fumar nos ônibus e nos aviões. Alguém consegue imaginar essa cena acontecendo hoje? Parece um absurdo, uma completa falta de senso de coletividade, até mesmo para mim que sou fumante. Também vale a pena evocar aqui o caso dos canudos de plástico: de uns oito anos para cá, os canudos nas lanchonetes vêm embrulhadinhos em papel, mas não me lembro de, antes disso, sentir nojo das centenas de mãos estranhas revirando o maço de canudos até pegar aqueles de sua preferência. Nem pensava nisso. Hoje sinto um pouquinho de nojo sim, me acostumei com essa higienização.
Mas vou logo ao assunto: me incomoda profundamente o fato dos motoristas friburguenses não darem passagem aos pedestres, como se as faixas fossem meros enfeites. E mesmo quando há semáforo, e este está vermelho, é só ele ficar verde para os carros acelerarem afoitos, como se os pedestres tivessem a obrigação de sair correndo para alcançar o outro lado da calçada. Fico imaginando aquelas velhinhas franzinas... Tadinhas.
Eu me acostumei, há mais ou menos dois anos atrás, a parar o carro para os pedestres. E passei também a prestar mais atenção no comportamento usual do friburguense no trânsito. Quando sou eu o pedestre, me dá raiva de alguns motoristas a ponto de achá-los uns ogros(as), mas aí me lembro que, há um tempinho atrás, eu também era um deles, e não ligava muito para os pedestres, porque quando era eu o pedestre, naturalmente era eu quem deveria se virar para atravessar a rua, assim eu pensava. Um carro parar para mim era coisa que só aconteceria no primeiro mundo ou em Florianópolis, por exemplo. Vocês veem... Não é maldade ou egoísmo, é o hábito, “as coisas como elas são”.
Quanto mais motoristas passarem a dar prioridade aos pedestres, mais esse comportamento vai se impor como hábito coletivo, e ficará embutido na cabeça das pessoas; “as coisas como elas são”. Aí, quem sabe, a nossa atual atitude no trânsito vai ser uma mera curiosidade pitoresca do passado, sem noção como acender um cigarro no ônibus.
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