Multitude - 24 de dezembro

Por João Clemente Moura
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Os anos 00

“Podemos já elencar três grandes forças que mudaram o mundo nesta década: o meio digital, o 11 de setembro e o aquecimento global”

Talvez só venhamos a ter noção do que foram os anos 00 daqui há um tempo, como, aliás, acontece com qualquer época. No entanto, podemos já elencar três grandes forças que mudaram o mundo nesta década: o meio digital, o 11 de setembro e o aquecimento global.

Nos anos 90 o mundo parecia caminhar para uma relativa paz. Salvo Kosovo e os conflitos africanos de sempre, o astral era tão paz e amor que a grande causa mundial parecia ser mesmo a libertação do Tibet: havia congressos, comitês, filmes, passeatas, festivais de música e todo um badabauê em torno da emancipação da pequena nação das mãos da China. O ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 pôs um fim nisso, pegando o mundo de surpresa e mudando para sempre o panorama da geopolítica mundial. As imagens das torres sendo atingidas pelos aviões e, horas depois, desmoronando por completo, ficarão para sempre na história. Nunca houve nada parecido: “Caros telespectadores, isso não é um filme, isso está realmente acontecendo”. Coitado do Tibet, nem podemos mais pensar nisso, agora o buraco ficou mais em baixo.

Nos anos 90 o mundo parecia também estar caminhando para a harmonia com o meio ambiente: Rio-92, Protocolo de Kioto e o desenho animado Capitão Planeta... Uma crise climática era algo que, se enfrentássemos, seria num futuro um tanto distante. Bom, estou preparando um artigo só para este tema, mas adianto aqui que é o assunto que mais me preocupa no momento. É a primeira vez que a humanidade encara seu fim anunciado (coisa que, aliás, também acontecia só nos filmes). Mas quero ver o lado bom também. Foi bom ter surgido o documentário do Al Gore (Uma Verdade Inconveniente) para levantar a questão com a importância que ela merece.

Por fim, temos o meio digital que, para ser sincero, já estou cansado de falar aqui. Minha estreia na coluna foi sobre isso, aliás! Mas foquei o tema na parte da comunicação, sendo que o meio digital está em diversas esferas da vida. No fim do século passado ele estava ainda engatinhando e desenhava um futuro promissor (alguém lembra de MS-DOS, Geocities, Excite e Altavista?). No mundo artístico, por exemplo, está sendo uma benção, uma dádiva divina, pois pode-se fazer muito, muito mesmo, com baixo custo, no conforto do seu lar. Compare a qualidade das fotos de hoje em dia com as de uma revista de vinte anos atrás para ter uma noção. Arte gráfica então...

Resumindo, os anos 90 foram uma época em que se sonhava com um futuro bacana que estava para chegar. Em certos aspectos, acabou não sendo tanto de nosso agrado.

        

* **

Pessoalmente, esse início de milênio foi uma época grandiosa da minha vida,  compreendendo os primeiros anos da minha juventude adulta. Dá para escrever um livro. Mas, enquanto não escrevo, deixo aqui as palavras de Joseph Conrad (pra você, Cacau!): 

“Apenas os jovens têm tais momentos. Não me refiro aos muito jovens. Não. Os muito jovens não têm, a bem dizer, momento algum. É um privilégio do começo da juventude viver adiante dos seus dias, em toda a bela continuidade de esperança que não conhece pausa ou interrupções.

“Fecha-se atrás de si o portão da mera meninice – e adentra-se um jardim encantado. Até as sombras aqui resplandecem cheias de promessas. Cada curva da vereda tem suas seduções. E não porque se trate de um país desconhecido. Sabe-se muito bem que a humanidade toda já trilhou aquela senda. É o encanto da experiência universal, da qual se espera extrair uma sensação incomum ou pessoal – um algo que seja só nosso”. 

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