Multitude - 24 de abril.

Por João Clemente Moura
sexta-feira, 23 de abril de 2010
por Jornal A Voz da Serra

A dança da moda

O vaivém da moda é incrível. Roupas, assessórios e cortes de cabelo que já foram moda nos anos 80, e que passaram a ser abominados nos anos 90, estão de volta agora com toda a força. É claro que se trata de uma releitura, adaptada aos novos tempos, mas que não deixa de ter essa referenciazinha no passado. Até mesmo as ombreiras e os bigodes, que a maioria dos fashionistas jurava de pé junto que nunca mais voltariam à cena, estão aí entre nós... Não vou ficar surpreso se a pochete voltar a ser moda.

Estamos numa época de extravagância, de coisas prateadas, douradas e multicoloridas, assim como nos anos 80 – e é possível que esses tempos atuais virem piada daqui há dez ou vinte anos. Mas, é preciso deixar claro, existe uma grande diferença: parece que agora há uma espécie de consciência disso, parece que essa extravagância ‘sem noção’ é na verdade proposital. Vejam, por exemplo, o visual da Lady Gaga, talvez o ícone pop dessa geração: ela é cafona e dadaísta, mas é tão assumidamente cafona e dadaísta que, se apresentando com segurança e sem qualquer vergonha de si, ganha o respeito.

Mas estou contando só uma parte da história, de propósito. Esse retorno da extravagância faz parte, na verdade, de um processo maior que acontece no século XXI. Seria mais exato dizer que vivemos hoje numa época simpática à extravagância, pois esta coexiste com um monte de outras tendências. Hoje o mundo é mais democrático em termos mercadológicos e aceita muito mais as diferenças estéticas. As tendências só apresentam coisas, e as pessoas tem um leque muito maior de opções para se expressar; várias coisas estão ‘na moda’ ao mesmo tempo. E mesmo que não seja o caso: se transmitir autenticidade, se a combinação ficar bacana, tá valendo.

Eu pessoalmente gosto de me vestir com discrição, low key, minimalista; menos é mais. Mas assim mesmo eu observo uma influência dos tempos atuais quando comparo minhas fotos do passado. A nossa percepção estética é de certa forma coletiva, ‘o espírito do tempo’. E aí vem a parte ruim da história: a gente consome o que o mercado tem a oferecer (e com o preço que ele quiser). Dependendo do lugar do mundo onde você mora, isso pode ser muito restrito.

Algumas peças ‘da moda’ são usadas com tanta frequência, por tanta gente, que acabam mesmo cansando os olhos. Claro que existe muita falta de personalidade nesse mundo, mas é difícil julgar. Às vezes o sujeito achou a peça bonita e ponto final. Na verdade, usá-la só porque está na moda ou deixar de usá-la só porque está na moda é a mesma coisa: é o olhar do outro imperando sobre o seu gosto pessoal.

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