Esse mundo kafkiano
“As pessoas não sabem que podem
fazer perguntas. E já se habituaram a
receber respostas que não esclarecem nada”
Franz Kafka, escritor tcheco. Nasceu em 3 de julho de 1883 na cidade de Praga. Morreu aos 40 anos, vítima de tuberculose. Seu livro mais conhecido é A Metamorfose, no qual o protagonista acorda um belo dia no corpo de um inseto do tamanho de um ser humano.
Embora a obra de Kafka seja repleta de inquietação e perturbação, seus amigos e colegas o consideravam um sujeito normal. Ele publicou pouco em sua vida e pouco antes de morrer pediu que seus manuscritos não publicados (a grande parte de sua obra) fossem queimados. O pedido, felizmente (para nós), não foi atendido.
Junto com A Metamorfose podemos incluir também no cerne do seu trabalho O Processo – cujo protagonista encontra-se sujeito a um processo judicial que ele não sabe qual é – e O Castelo – no qual um agrimensor, chegando a uma vila rural, tenta inutilmente buscar explicações das autoridades locais.
Bom, talvez o leitor mais atento já tenha captado o espírito da obra de Kafka: os protagonistas estão sempre envoltos numa espécie de poder obscuro, secreto, fantasmagórico, sem explicação; como uma burocracia circular de lógica que, chegada a etapa final, volta-se à primeira, e assim indefinidamente. O personagem kafkiano jamais consegue encontrar as razões da angústia que o aflige. Em O Castelo, por exemplo, o tal agrimensor procura por respostas conversando com aldeões que seguem as leis e comandos vindos do castelo sem nem ao menos questioná-los, por mais estapafúrdios, absurdos e flagelantes que sejam. A estrada que leva ao castelo no alto da montanha é circular e o agrimensor, tentando subi-la, dá voltas e mais voltas sem nunca conseguir alcançar o topo.
Interpretações podem ser parciais e pessoais, reduzindo toda a amplitude de uma obra de arte a um simbolismo tolo. Vou então colocar as coisas assim: entre o mundo kafkiano e o ‘mundo real’ existe muita sintonia, muita ressonância. Podemos dizer que já nascemos acostumados a esse tipo de situação kafkiana, ainda mais em uma tradição de autoritarismo, como a do Brasil; as pessoas não sabem que elas podem fazer perguntas. E já se habituaram a receber respostas que não esclarecem nada.
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