Multitude - 19 de junho.

Por João Clemente Moura
sexta-feira, 18 de junho de 2010
por Jornal A Voz da Serra

A sintonia com os livros

O penúltimo livro que eu li foi Bel-Ami, do francês Guy de Maupassant. Do fim do século XIX, Bel-Ami é um grande clássico da literatura mundial e causou muita polêmica na época porque seu herói é um sedutor, um homem que vai subindo na vida à medida que vai pegando as mulheres dos outros.

Guy de Maupassant foi pupilo de Gustave Flaubert, autor do igualmente clássico e polêmico Madame Bovary. Não seria exagero da minha parte comparar os dois livros da seguinte forma: Bel-Ami é o correspondente masculino de Madame Bovary. Minha análise poderia ir mais longe se pudesse contar o final dos livros, mas certamente não vou fazer isto aqui.

Muitos romances desse gênero literário – o realismo francês – buscaram revelar certa “sordidez do ser humano” e dos valores da sociedade burguesa; aspectos estes que existem em nosso meio – nós podemos constatar! –, mas que certamente não são os únicos, o ser humano é muito mais do que isso.

Esta é uma das características da arte: destacar um aspecto e elevá-lo. E, como eu já estava cansado disso, de ler coisas sórdidas (eu havia lido um livro de Henry Miller antes), resolvi debruçar-me desta vez sobre algo que me trouxesse e me despertasse sentimentos de esperança, ternura, amor. Daí comecei a ler Knulp, de Hermann Hesse.

Hesse acredita nas pessoas, acredita no potencial humano, na nossa capacidade de vivermos juntos, trocando experiências e sentimentos nobres. E não há nada de ingenuidade nisso, como alguns gostariam de acreditar.

As três obras de destaque de Hermann Hesse são Demian, Sidarta e O Lobo da Estepe. Embora em cada livro o personagem principal seja único, essas três obras são consideradas por muitos como uma espécie de trilogia, representando três fases da vida. Demian trata da infância e da primeira juventude, da descoberta e de decisões éticas. Sidarta (não confundir com Sidarta Gautama, o Buda) é um personagem já adulto-jovem, andarilho, também atrás de descobertas, mas que por sua vez tem uma dose bem maior de serenidade e sabedoria. Já o Lobo da Estepe trata de um homem beirando os 50 anos, angustiado e atrás de redenção.

Ficam aqui essas dicas para quem quiser ler um bom livro. Independentemente da idade, os livros têm mais a ver com o estado de espírito do leitor.

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