A doce névoa da retórica
Barack Obama é o relações-públicas de uma máquina. E, se era difícil gostar da política estadunidense com George W. Bush na presidência, agora, em tempos de nova administração, corremos o sério risco de aceitarmos e louvarmos essa máquina graças a uma simpatia despolitizada em torno da figura humana de Obama.
Porque ele parece um de nós, porque ele é negro, é jovem, é cool... Porque ele fala de maneira clara, racional, respeitando a inteligência do ouvinte. Porque ele fez um discurso brilhante no Oriente Médio, que entrará para a história. Porque Obama é um cara tão legal que é difícil falar dessas coisas.
Na campanha eleitoral estadunidense de 2008, os candidatos se diferenciavam nitidamente em pelo menos uma posição: McCain defendia o corte nos impostos das pequenas empresas e Obama defendia o corte nos impostos dos cidadãos comuns. Obama foi chamado até mesmo de socialista por McCain, mas ambos sabiam que isso era só retórica de campanha, pois mesmo com Obama na presidência, era evidente que Wall Street jamais ficaria de fora do governo. E, de fato, toda a nomeação do novo presidente provém do universo financeiro, sem qualquer outro setor da economia ou da sociedade representados.
Obama candidato disse que fecharia a prisão de Guantánamo e, assim que assumiu a presidência, assinou um documento afirmando apenas “considerar a possibilidade” disso acontecer mesmo. E, semanas depois, inacreditavelmente, voltou atrás em sua decisão! Mas o pior de tudo, além disso, foi a ratificação do direito de extradição concedido à CIA para continuar enviando prisioneiros à Guantánamo ou a qualquer outro lugar considerado conveniente.
Obama também ratificou o Ato Patriota, uma política criada na administração Bush para monitorar e espionar cidadãos americanos suspeitos sem necessidade de mandato. Obama havia prometido em sua campanha que anularia o Ato Patriota.
Obama candidato disse que tiraria os soldados do Iraque em dezesseis meses. Ele não somente prorrogou o prazo para dois anos, como também passou a dizer que tiraria apenas parte dos soldados de lá. E duplicou o efetivo americano no Afeganistão em sua batalha pela nova área de controle, o Paquistão.
O governo Obama é blindado pelo culto a sua personalidade, assim como vimos ao longo da história em torno de líderes como Hitler, Stalin e Mao Tsé-Tung. Mas, no século XXI, esse fenômeno não precisa mais ser orquestrado pela máquina-estado (ditadura), pois é diretamente realizado pela máquina-mercado (liberalismo), através de músicas, camisetas, gibis e comerciais da Pepsi. E, se as ações de Obama parecem seguir o mesmo caminho das de George W. Bush, talvez Obama seja um presidente mais perigoso ainda.
Deixe o seu comentário