Multitude - 14 de novembro

Por João Clemente Moura
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

O presente dos deuses

“o milho hoje não consegue se reproduzir sem a ajuda do ser humano. Se ninguém mais plantar milho, o milho acaba. Infelizmente, é como se hoje nos tornássemos seus deuses”.

Você anda na rua e sente um cheiro gostoso. Na esquina seguinte, está lá uma barraquinha vendendo milho cozido. O homem da barraquinha pesca uma das espigas da grande panela. A manteiga derrete no milho instantaneamente.

Mais tarde você vai ao cinema. Nada combina mais com filme do que pipoca, de preferência em um balde grande para poder comê-la compulsivamente. Entretanto, não passa pela sua cabeça que a pipoca, mesmo sendo branquinha, é apenas milho, sem tirar nem por.

O milho é um dos alimentos mais versáteis que existem. Também um dos mais nutritivos. Se fossemos citar toda a variedade de pratos que levam esse cereal, certamente ultrapassaria o espaço dessa coluna. Pegando apenas alguns exemplos de comidas que são preparadas basicamente só com milho, temos a pipoca, o angú, a polenta, a pamonha, o cuscuz, Sucrilhos, Fandangos, nachos (Doritos), e por aí vai. Vale lembrar também do amido de milho, presente em uma gama de pratos tradicionais brasileiros e estrangeiros e a frutose de milho, adoçando diversos alimentos industrializados

Na imaginação popular, milho é alimento de pombos e galinhas. E é, de fato, um dos ingredientes mais usados na ração de animais de criação. Além disso, muitos produtos para humanos - mas que não são comida - como cosméticos, detergentes, adesivos e antibióticos, levam em sua composição algum derivado do milho.

A história da planta começa no México, há 7000 anos, quando foram encontrados os primeiros vestígios do seu cultivo. Nessa época, a espécie pouco se assemelhava à sua forma atual, pois sua espiga era fina e pequena. Foi pela mãos do homem que o milho veio a se tornar o que ele é hoje, através de um processo denominado seleção artificial: ao longo dos séculos, os indígenas foram escolhendo quais espécies eram melhores para o consumo, aumentando assim seu tamanho e sua resistência. Quando, em 1492, Cristóvão Colombo chegou aqui, o milho já estava espalhado por toda a América, desde o Chile até o Canadá. Na mitologia e história desses diversos povos americanos, a planta está em lugar de destaque, sendo algumas vezes chamada de “presente dos deuses”. Foi, de fato, uma das principais contribuições da América à culinária global, ao lado do chocolate.

Um dado curioso é que, por causa do processo de seleção artificial ao longo desses milhares de anos, o milho hoje não consegue se reproduzir sem a ajuda do ser humano. Se ninguém mais plantar milho, o milho acaba. Infelizmente, é como se hoje nos tornássemos seus deuses.

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