Comunicar-se
Confesso que passei um bom tempo pensando a respeito dessa coluna, pensando no fato de ter aceitado o convite para cuidar de um espaço dedicado ao cotidiano, à cultura, à livre reflexão etc. Por que escrever para o público, afinal? Estas palavras estão aqui certamente para outras pessoas lerem, porque de outra forma eu as teria colocado num diário pessoal ou simplesmente deixado como estavam na minha cabeça. Assinar uma coluna, portanto, foi uma decisão fruto do meu desejo de me comunicar, do meu desejo de partilhar as coisas, de cooperar com algo. Escrever como arte, política, ética.
Nos dias de hoje, essa vontade de comunicação do ser humano se realiza através dos meios eletrônicos com força cada vez maior, fazendo até alguns psiquiatras questionarem a existência de algo como uma “síndrome de dependência de comunicação”. Eu morei no Rio por um tempo e lá me sentia um pouquinho em Nova Friburgo por causa do meu celular prefixo 22, do messenger e da publicação online de A Voz da Serra. Muita gente está lendo isso aqui em solos distantes, talvez em outros países, na frente de uma tela de computador. Para mim, essa opção virtual é uma dádiva mas, por outro lado, somente um paliativo: prefiro o papel, tenho relação afetiva com ele. Mas, retomando o ponto, as coisas hoje ultrapassaram o seu espaço físico e Nova Friburgo, assim, espandiu-se pelo mundo. Bom, pelo menos na medida em que as pessoas se interessam por esse pequeno município.
O mundo, por sua vez, também está desaguando aqui com mais volume. O que recebemos de informação d’além-montanhas faz a gente se sentir hoje menos provincianos e mais cosmopolitas, conectados à vida que flui ao redor do planeta. Talvez os adolescentes, que já cresceram na era digital, estejam achando esse papo um tanto careta, visto que celulares, páginas de relacionamento, Youtube e Google – esse oráculo pós-moderno – são para eles coisas da vida como o ônibus, a geladeira e as árvores. Se os mais velhos também abraçaram e se acostumaram com essas ferramentas sem muita dor, nos resta apenas o problema do grau de acesso: foi através do Discovery Channel que eu descobri, com espanto, que metade da população mundial jamais usou o telefone. O presente que descrevo aqui ainda é ficção científica para a maioria desprivilegiada.
Esse é um caminho sem volta e muito bem-vindo, embora existam em Nova Friburgo resquícios de sonhos/pesadelos antigos, nos quais o município cercado de montanhas estará para sempre protegido das ameaças de fora. Entrar de cabeça nesse futuro-já-presente significa para os friburguenses intensificar o processo de troca, atuando não somente como receptores de ideias, mas, junto com isso, como criadores, como produtores de ideias. Um diálogo é sempre de mão dupla.
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