Multitude - 13 de fevereiro

Por João Clemente Moura
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Saudade das cercas vivas

"Minha chegada a Nova Friburgo foi um evento realmente marcante para mim, era como se eu tivesse entrado num bosque encantado ou coisa parecida: montanhas, árvores, flores, beija-flores, borboletas, aranhas, sapos, silêncio, o clima inacreditavelmente ameno e agradável"

Quando cheguei a Nova Friburgo eu era muito pequeno, mas me lembro de muita coisa. Lembro do primeiro dia, quando eu e minha família nos alojamos na casa dos meus avós, pois nossa casa ainda estava sendo construída. Ficava na mesma rua.

Como eu tinha vindo de uma grande cidade caótica e quente no norte do país (meu pai na época trabalhava lá), minha chegada a Nova Friburgo foi um evento realmente marcante para mim, era como se eu tivesse entrado num bosque encantado ou coisa parecida: montanhas, árvores, flores, beija-flores, borboletas, aranhas, sapos, silêncio, o clima inacreditavelmente ameno e agradável (para os padrões que eu estava acostumado), enfim...

Algumas coisas mudaram desde os meus tempos de criança. O mais marcante, a meu ver, foi a substituição dos portões de madeira e das cercas vivas por grades pontudas e, mais recentemente, por muros altos e portões de ferro. Isso mudou radicalmente o aspecto das ruas do meu bairro. Tudo parece agora mais distante da natureza, seco, expulsivo, paranóico, feio. Ano após ano, as cercas vivas vão morrendo. Em seu lugar erguem-se os horrendos muros (os quais, aliás, se tornam imediatamente alvo de pichação!). Alguns desses muros até são adornados com trepadeiras, o que dá uma amenizada no visual, mas certamente não é a mesma coisa. Talvez chegue o tempo em que não restará mais cerca viva alguma.

O culpado por essa transformação? É fácil apontar: o medo da violência. Mas eu fico pensando aqui comigo se os muros são realmente mais eficazes do que as cercas vivas no quesito segurança, visto que não é nada fácil transpô-las, mesmo se o invasor tiver em mãos uma tesoura de poda ou um facão afiado. Se eu fosse um ladrão, acharia muito mais conveniente pular um muro do que atravessar uma cerca viva, com a vantagem de que, uma vez lá dentro, ninguém saberá de meus passos, ninguém me verá.

Mas vai... eu não quero aqui causar polêmica, eu posso estar falando uma baita de uma besteira. Não quero culpar ninguém por ter feito um muro ao redor da casa. Eu estou apenas com saudade das cercas vivas... O cheiro do cipestre...

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