As palavras e as coisas 2
“Vejam como isso é complicado: aqui em Nova Friburgo, o recente debate sobre a construção de um novo espaço carcerário ficou emperrado um bom tempo numa única questão, a respeito do nome: casa de custódia ou presídio?”
Um dos maiores problemas da filosofia é ‘as palavras e as coisas’. Damos nome às coisas pelo seu aspecto, sua história, sua função, seu tamanho etc. Em muitos casos, um mesmo objeto apresenta nomes completamente diferentes. Talvez sejam as crianças as que chegam mais perto do fundamental da questão: ‘Mãe, por que parede tem esse nome?’. É por isso que rimos delas; as crianças nos tiram daquilo que fomos habituados a aceitar, daquilo que é determinado socialmente. Partilhando dessa forma de ver o mundo, também os psicóticos e os poetas transformam e bagunçam as palavras e as coisas, dando sentido de alegria ou de tristeza.
As palavras e as coisas são uma questão séria para a filosofia porque fazem parte de uma discussão maior, que atravessa os séculos: as coisas têm essência? O que faz de um cachimbo um cachimbo? Onde termina a panela e começa a frigideira? Samba ou pagode? Por que Plutão não é mais planeta? Vejam como isso é complicado: aqui em Nova Friburgo, o recente debate sobre a construção de um novo espaço carcerário ficou emperrado um bom tempo numa única questão, a respeito do nome: casa de custódia ou presídio? Cada grupo partia de um pressuposto diferente, fazendo cada qual questionamentos valiosos, mas sem poder de comunhão entre si. Um era a favor da construção de uma casa de custódia e o outro era contra a construção de um presídio (sendo que, para este grupo, a casa de custódia é um presídio). O que se discutia era um mesmo evento no tempo-espaço, uma única ‘coisa’. O juízo vai mais longe quando se tem entre as partes uma concordância acerca do conceito.
Nenhum campo do conhecimento imprime sua verdade com tanta força sobre nós como a biologia. Caju não é fruto, mas um ‘pedúnculo floral’, um pseudofruto. Já o tomate, este sim, é fruto. Temos também o exemplo do jacaré e do crocodilo. Seriam tão diferentes assim a ponto de darmos nomes completamente diferentes a eles? Para Herman Melville, autor do clássico Moby Dick, a baleia, embora tenha pulmão e sangue quente, nada mais é do que um peixe. Um peixe com a cauda horizontal e jato de ar e água no seu dorso. Melville é do time das crianças!
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