Multitude - 10 de outubro

Por João Clemente Moura
sexta-feira, 09 de outubro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

As férias de 2002

“A praça se tornou um lugar chato. Nem quando tiraram o trailer policial ela voltou a ser a mesma”

Algumas épocas de nossas vidas são tão marcantes que figuram em nossa mente como um universo próprio, destacado. Determinadas músicas e aromas nos fazem remeter diretamente a elas. Existem teorias para explicar isso, mas não tenho espaço para isso aqui e prefiro contar a historia das férias de verão de 2002. O que me fez lembrar delas foi um disco dos Beatles (White Album), que eu costumar ouvir nessa época, pois foi quando eu o havia descoberto. Recentemente ouvi-o de novo, em sua novíssima versão remasterizada e aproveito aqui para recomendar a remasterização da obra completa dos Beatles, que acabou de ser lançada, e que soa muito bem nos autofalantes vagabundos dos computadores.

As férias de verão de 2002... Na época eu cursava faculdade no Rio de Janeiro, estava na metade do curso de graduação. A entrada em uma universidade, bem como o fato de morar em uma cidade grande como o Rio, me fizeram conhecer muita gente e ter adquirido muita experiência de vida. Mas eu nunca imaginei, entretanto, que durante esse período eu pudesse passar por coisa parecida aqui mesmo em Nova Friburgo; nunca imaginei que eu fosse conhecer tanta gente ao mesmo tempo e que uma nova realidade pudesse se abrir para mim, já que eu imaginava que Nova Friburgo estava completamente saturada para mim nesses termos.

Pois nessa época um grande número de jovens comparecia todos os dias à tarde na praça do centro. Em cada banco acontecia alguma coisa. Formou-se uma grande rede de relações, onde os bate-papos, as discussões, as festas, os passeios, o montanhismo, as reuniões para ver filme, as bandas de rock, os namoros, etc, etc, estavam fervilhando. Na época, um grande amigo meu chegou a montar uma ONG para alavancar o potencial cultural dessa energia coletiva.

Mas tudo desapareceu quando colocaram um posto policial bem no meio da praça. A maioria dos jovens lá não fazia nada demais, mas a simples presença daquela instituição, de maneira tão ostensiva, drenou toda a espontaneidade necessária para a agradabilidade das coisas. Ou seja, a praça se tornou um lugar chato. Nem quando tiraram o trailer policial ela voltou a ser a mesma. Perdemos de vez aquele evento celeste-municipal.

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