Mulheres grávidas

Por Robério José Canto
sexta-feira, 29 de abril de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Agora, que eu saiba, nunca

houve simpatia para evitar gravidez.

Ou, pensando bem, talvez seja

justamente a simpatia

das mulheres a causa de tanta gravidez.

Vocês já devem ter reparado quantas mulheres grávidas estão circulando na cidade. O mais engraçado é que elas dizem assim: “Não sei como aconteceu!” Ora, vamos falar a verdade: todos nós sabemos como isso acontece. Já no meu tempo de criança eu tinha sérias dúvidas quanto a essa história de cegonha. Minhas dúvidas não eram de ordem biológica, moral, sexual ou qualquer coisa desse tipo. Simplesmente aconteceu que eu vi o desenho de uma cegonha carregando um bebê e achei improvável que ave tão frágil aguentasse no bico tamanho peso e que, ainda por cima, fizesse aquela cara de felicidade.

Mas também nunca falei nada, jamais desmenti os adultos. Quando, na família, alguém contava que a cegonha ia trazer um bebê para uma parenta, eu simplesmente ficava calado e logo me esquecia do assunto, para ir brincar de pião ou correr atrás dos gatos da vizinhança. Era um tempo em que o médico ia à sua casa e, se quando ele saía, você perguntasse: “Quanto é, doutor?”, ele te dava um tapinha nas costas, dizendo: “Que é isso, compadre, tá me desconhecendo?”.

Nem por isso a gente vivia chamando médico a toda hora. A maioria das doenças se curava com chá de erva cidreira, Emplasto Sabiá e simpatias. Vick Vaporub também era muito usado, sobretudo nos resfriados, dores de dente, furúnculos, topadas e torções em geral. Mas simpatia era tiro e queda: uma folha de palmeira pendurada atrás da porta curava praticamente tudo. Na casa de minha avó se usava sempre e, falando sinceramente, simpatia nunca é demais. Eu mesmo, se tivesse alguma, entrava na política, que obriga a gente a engolir muito sapo, mas rende uma graninha boa no fim do mês.

Agora, que eu saiba, nunca houve simpatia para evitar gravidez. Ou, pensando bem, talvez seja justamente a simpatia das mulheres a causa de tanta gravidez. O que eu sei é que o número de gestantes é grande.

(...)

Quanto às grávidas, que sejam dadas a elas todas as homenagens, os lugares nas filas e os bancos nos ônibus. E que a humanidade inteira (sobretudo a pior parte, que somos nós, homens) tenha com elas o maior carinho e paciência. Quer elas chorem sem motivo, que acordem de madrugada para perguntar aos maridos se eles ainda gostam delas, quer peçam ao garçon para trazer sorvete de abóbora, tudo lhes seja perdoado. Nelas, a vida nasce e renasce. Nelas, está o princípio e o fim de todos os mistérios. Graças a elas, o mundo tem a chance de vir a ser melhor. Porque cada criança que chega ao mundo é uma nova oportunidade que Deus, esperançoso, nos oferece.

Do livro “Vento nas casuarinas”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade