Isabela Braga*
O Brasil é o país com a maior reserva de água doce do mundo — 12% do volume total do planeta. Entretanto, estamos vivendo a maior seca já registrada e parece que nada irá mudar, em curto prazo, a não ser que São Pedro resolva dar uma ajudinha.
Para piorar a situação, nossa energia vem majoritariamente de hidroelétricas: 79%, segundo o Ministério de Minas e Energia, que utilizam água para gerar a energia elétrica que usamos para quase tudo, como ligar o interruptor de luz e televisões, carregar celulares e computadores, entre tantas outras necessidades da vida moderna.
Embora essa seja uma tecnologia considerada "verde”, pois se utiliza um recurso natural renovável (água) para gerar eletricidade não havendo praticamente emissão de gases do efeito estufa (GEE), uma matriz energética predominantemente dependente de uma única tecnologia não garante a sustentabilidade da mesma.
Quando os reservatórios das hidroelétricas encontram-se a níveis baixos, todas as termoelétricas são acionadas — 12% da produção nacional —, e passamos a queimar carvão ou qualquer outro combustível fóssil não renovável para gerar energia para residências, indústrias e afins, paralelamente aumentamos as emissões dos gases do efeito estufa (GEE).
E o que esses gases têm a ver com a falta de água no Brasil? Bem, esses notórios GEE — dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, clorofluorcarbonetos, hidrofluorcarbonetos, perfluorcarbonetos e hexafluoreto de enxofre — são considerados os responsáveis pelas mudanças climáticas observadas em todo o mundo, fonte de inúmeros artigos científicos e políticas externas.
Desde o começo da década de 1990, algumas instituições independentes foram criadas para investigar as consequências adversas do aumento da concentração desses gases na atmosfera — destacando-se o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) e a Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês) e seu papel crucial na disseminação de informações técnicas e científicas para a comunidade internacional. Desde então, as evidências vêm se acumulando e já não é possível ignorar os sinais em todo o mundo, mais facilmente observados por nós através de eventos climáticos extremos como secas, chuvas, nevascas, ondas de calor, etc.
E o que as mudanças climáticas têm a ver com a seca brasileira? Primeiramente, o nível de desmatamento na Amazônia, que vinha decaindo a cada ano, aumentou assombrosos 190% em agosto e setembro deste ano comparado ao ano passado, segundo o Instituto Imazon — dado este mantido em sigilo até a última eleição, por motivos óbvios. Ou seja, todo o gás carbônico jogado na atmosfera que seria parcialmente absorvido por essas árvores, agora se encontram dispersos na atmosfera, mudando sua composição e, consequentemente, o clima.
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O desmatamento também afeta os níveis de precipitação (chuva) além do curso dos rios. Nossa maior reserva de floresta e hídrica está na Amazônia, no Norte do país, e o maior consumo de água e energia está nas regiões Sul e Sudeste, ou seja, precisamos que esses rios percorram desde lá até desaguarem aqui na costa leste. Quando falta água, esses rios perdem sua força e deixam de fluir no sentido sul, como foi recentemente observado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) através de imagens de satélite. E aí está a raiz do problema, juntamente com a falta de investimentos e incentivos por parte do governo em eficiência energética, e má gestão dos recursos hídricos, principalmente por empresas estatais de água.
Mas a boa notícia é que esse alarmante contexto de falta d’água no Brasil já mobilizou ONGs e cabeças pensantes em todo o mundo, empenhados que estão nos estudos de seus efeitos e causas, propondo soluções de curto e médio prazos. Também será uma ótima oportunidade para desenvolvermos outras tecnologias renováveis e mais eficientes como a eólica e a solar, que ainda se encontram em seus passos iniciais no país, mas possuem grande potencial energético e, acima de tudo, não são dependentes de água, que é vital para a sobrevivência da vida na Terra.

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