Carlos Emerson Júnior
Sou um apaixonado pelo conceito de tempo. Essencial para a evolução da raça humana, o tempo é abstrato e somos os únicos seres deste planeta que medimos sua passagem, o que talvez, filosoficamente, seja um enorme erro: nunca vi um gato, cachorro ou cavalo sofrendo de crise da meia-idade!
Mas, brincadeiras à parte (e ainda mais sem graça), a introdução temporal tem uma razão de ser: quando vocês estiverem lendo essa crônica, já estarei confortavelmente instalado em meu novo apartamento lá no Rio, depois de ter morado por longos 15 anos no mesmo endereço, um recorde para quem adora mudar de ares (e de casa, por suposto).
Não, não sou um foragido da lei ou agente secreto do governo britânico, com carrões e mulheres à disposição e por conta de Sua (a deles) Majestade! Mas para quem já morou em Copacabana, Leblon, Humaitá, Copacabana, Grajaú, Méier, Copacabana, Braunes e Copacabana outra vez, encarar mais uma mudança e dessa vez apenas com minha mulher e a cachorra, será, perdão, foi absolutamente natural, desde que você adore... mudanças!
Por incrível que pareça, a vinda para Nova Friburgo foi praticamente indolor. Quando o apartamento finalmente foi entregue, demoramos uns bons quatro ou cinco anos para fazer daqui nossa segunda casa. Ou primeira, já que passamos mais tempo na serra do que na praia! Mas aí, a casa já estava toda carinhosamente montada, equipada e perfumada. E continua assim até hoje, treze anos depois.
Mudanças são sempre bem-vindas, ainda mais quando desejadas e, se possível, planejadas. Está bom, nem sempre a gente acerta e, por mais boa vontade que tenha. Em algumas situações, o melhor a fazer é arrumar as malas e ir embora. De qualquer maneira, seja por que motivo for, não dá para negar que sempre levaremos alguma coisa, principalmente amizades que durarão o resto da vida, ora!
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O mais estranho é andar pelo velho apê que nos abrigou por tantos anos, quase todo vazio, nossa tralha do dia a dia embalada em caixas espalhadas pelos cômodos, operários consertando o piso, pintando paredes e a cachorra revoltada com toda essa confusão, latindo sem parar para tudo e todos. Haja poeira, barulho e paciência.
Ainda não vi a nova casa. Minha mulher, que desde sempre adora uma mudança (e não por acaso começou vindo de Cuiabá para o Rio), está feliz que nem pinto no lixo, cuidando pessoalmente de todos os detalhes, desde a decoração até a parte legal. Aliás, legal digo eu, que fiquei livre para “supervisionar” as obras necessárias e continuar escrevendo os meus trabalhos.
A propósito, em Mato Grosso tem um ditado que diz o seguinte: “Deus faz, o vento espalha e o diabo junta”. Pois é, quem falou para ela se meter com um carioca que adora mudanças? Deu nisso e, antes que perguntem, ainda não enjoamos um do outro. Ufa!
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Mudanças podem ser físicas, morais, espirituais e institucionais, é claro. Tem quem pinte o cabelo, coloque botox, faça plástica ou tudo isso ao mesmo tempo, só para ter a sensação de remoçar alguns anos. Nada contra, cada um faz da cara, perdão, da vida, o que quer. Eu, por exemplo, em protesto contra a debandada generalizada dos meus cabelos, deixei a barba crescer. O que não sabia é que barbas crescem com muita rapidez e, se eu não quiser ser confundido com um profeta, tenho que aparar a dita-cuja semanalmente.
Como alguns alimentos são incompatíveis com pelos, o cuidado na hora das refeições precisa ser redobrado. Você, tal qual os carecas, acaba virando um ponto de referência e sempre tem uma mãezinha ao lado pronta para falar pro rebento malcriado que o Papai Noel está olhando! Pior são os amigos que perguntam se é promessa ou desgosto...
Millôr Fernandes disse que “numa vida média de 50 anos, 80 a 100 dias são empregados pelos homens só no ato de fazer a barba. Ignora-se o que as mulheres fazem com esse tempo.” Pois é, acho que agora vou descobrir esse segredo!
carlosemersonjr@gmail.com
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