No próximo sábado, 19, às 9h, será celebrada a ordenação do bispo Dom Tomás de Aquino, há 30 anos à frente do Mosteiro da Santa Cruz, localizado no distrito de Riograndina. A cerimônia será conduzida pelo bispo tradicionalista britânico Richard Williamson, com assistência do bispo Jean-Michel Fourre, religioso francês ordenado juntamente com o sacerdote André Zelaya de León, em março de 2015.
Na época, os dois ordenamentos provocaram reação das autoridades eclesiásticas e foram comunicados pela Diocese de Nova Friburgo à Nunciatura Apostólica, o consulado do Vaticano em Brasília, responsável pela ordenação de religiosos.
O bispo de Nova Friburgo, Dom Edney Gouvêa Mattoso, divulgou nota oficial sobre o assunto e considerou os ordenamentos uma "desobediência ao Papa em matéria gravíssima”. Já o cardeal Dom Orani Tempesta, do Rio — que manifestou apoio e solidariedade ao bispo diocesano de Nova Friburgo — também divulgou nota onde tornava pública "sua tristeza ao tomar conhecimento da celebração de ordenação episcopal no Mosteiro da Santa Cruz”.
O Mosteiro da Santa Cruz é a sede da Fraternidade Sacerdotal São Pio X na Região Serrana, uma entidade religiosa fundada em 1970 que rejeita as reformas instituídas pelo Concílio Vaticano II (1962-65). Seus seguidores defendem a doutrina católica tradicional. Desta forma, se baseiam em questões como: “Se ofendem ou não a Deus, se O agradam ou não. Se são ensinamentos da doutrina da Igreja (dogmas, que não mudam), aceitam, assim como aceitam as mudanças de cunho pastoral. Mas se são ensinamentos de cunho pessoal, porque o Papa quer, porque o Papa gosta, então, rejeitam”.
Dom Tomás de Aquino, mesmo estando à frente do mosteiro há 30 anos, recebeu com surpresa o comunicado de que havia sido escolhido para ser ordenado bispo. O telefonema com a notícia ocorreu há cerca de 40 dias, através do bispo Williamson. Argumentos como a necessidade de “renovação do quadro, a idade avançada de alguns bispos e consequente dificuldade para enfrentar viagens longas para cumprir determinadas funções, como ordenação de novos padres, tarefas relativas aos ensinamentos, entre outros”, o levaram a aceitar o convite.
“A humanidade vive um momento de grande turbulência, de muitos desvios. Está sem rumo. O catolicismo não é o mesmo de 50 anos atrás: a ignorância religiosa aumentou, os divórcios são cada vez mais frequentes, casamentos são desfeitos com facilidade, famílias são destruídas, crianças são abandonadas, questões morais se tornaram irrelevantes. O mundo vive uma séria crise, de toda natureza, e isso merece profunda reflexão. A nomeação de novos bispos, em todos os países onde estamos estabelecidos, é importante para continuarmos a levar a palavra de Cristo, onde for possível”, ressaltou Dom Tomás.
Polêmica
Ordenado padre em 1976, o religioso britânico Richard Williamson pertence à corrente católica que foi liderada pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre (1905-1991), resistente às reformas instituídas pelo Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. Em 1970, Lefebvre fundou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que segue a doutrina católica anterior ao Concílio. Em 30 de junho de 1988, sem o consentimento do papa João Paulo II, ele ordenou bispos Williamson e mais três padres. O ato foi considerado ilícito pelo Vaticano, que excomungou os cinco religiosos.
Apesar de rompida com o Vaticano, a Fraternidade Sacerdotal continuou atuando como entidade religiosa e hoje está presente em 31 países. Em 2009, o então Papa Bento XVI anulou as excomunhões de 1988. Williamson resgatou a condição de bispo, mas sem o poder de realizar atividades inerentes ao bispado católico, como as ordenações. No entanto, em 2015, à revelia do Vaticano, ele ordenou Jean-Michel Fourre.
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