Miro Nobre da Silva
Minha primeira viagem foi entre dezembro e março de 1973. A partir de 1992 viajei todos os anos, portanto, são no mínimo 23 viagens, sendo que em alguns anos fiz duas viagens e em outros, até três. Por exemplo: em julho de 2013 eu e minha mulher fomos para Orlando (EUA), em seguida para Cancún (México) e depois para Nova York. Em junho de 2014, França, Espanha e Portugal. Antes de nossas filhas nascerem, as viagens eram maiores. Uma vez chegamos a ficar seis meses viajando pela Europa.
Creio que, ao todo, foram mais de 30 viagens, sendo que no inicio fazíamos quase sempre uma triangular (com stay over) na Flórida, Miami, isto é, pagando mais US$ 100 por pessoa, podíamos passar alguns dias em Miami e adjacências (Key West, Key Biscaine, Orlando, etc), no retorno para o Brasil. Pena que essa moleza acabou.
Gostaria de conhecer a Grécia, o Havaí, a Costa Oeste americana (de carro), Peru, Bariloche e muitos outros lugares, quem sabe uma volta ao mundo...
Poderia escrever um capítulo sobre como conseguir viajar de executiva sem pagar o preço do bilhete cheio, que é muito caro. Com a experiência, fiquei mestre em tentar — e às vezes, conseguir.
Tenho muitas histórias, muitos lugares, pequenos e grandes prazeres, um detalhe que fez a diferença, um cheiro, uma noite, um amanhecer... São tantas as lembranças que as viagens nos deixam. Em Andorra, o carro onde eu e meu pai viajávamos ficou atolado na neve.
Em 1987, fomos para o Porto (Portugal), minha primeira viagem internacional, com direito a paradas em Assunção, Ilhas Canárias (ameaça de bomba, avião parado na pista de madrugada, bagagem fora da aeronave, polícia, cachorro farejador, cada um mostrando a sua bagagem, sobra uma, vem o carrinho leva a mala inoportuna, um passageiro a menos, atraso na chegada em Madri). Lá, como ligar para os parentes que aguardavam no Pedras Rubras, atual Sá Carneiro, avisando do ocorrido? Não tinha celular, nem internet, muito menos euros, Portugal não tinha nem jeans... Compramos pesetas que tinham que ser colocadas em pé e enfileiradas.
(Esqueci de falar que levei uma dura da polícia espanhola porque estava correndo no aeroporto de Barajas para tentar alcançar um voo já perdido.) Resumindo, um princípio nada alentador, mas eu já estava mordido pelo bichinho da viagem.
Tudo começou com três pessoas que ajudaram a formar meu caráter: meu avô, o tenente (Claudomiro) Nobre — como era conhecido pelos friburguenses mais antigos — da Marinha do Brasil, que desde sua ida da pequena Arez, a alguns quilômetros de Natal, para o serviço militar, demonstrou a força que lhe impulsionaria por toda a vida, desbravando, participando, viajando!
Meu pai, José Espinheiro da Silva Junior, filho do português José Espinheiro da Silva, vindo de Espinho (cidade próxima ao Porto), para a Terra Brasilis em busca de sua vida, seu amor, uma niteroiense que lhe deu três filhos, e uma carreira de caixeiro viajante — olha a viagem aí de novo. Com meu pai — Zeca, bancário, professor de matemática, funcionário público federal, dono do bar do Clube de Xadrez, do Xadrezinho, onde muitos friburguenses que hoje se encontram numa idade madura iam paquerar e beber seu cuba libre — aprendi a apreciar os sabores da vida, o amor, a paciência que ele tinha, o carinho, o gosto herdado pela mesa farta, o caráter, o prazer nas pequenas coisas, a dirigir, a viajar...
Graças a Deus pude aproveitar bons momentos com meu pai, meu maior amigo, meu companheiro, curtimos, voamos, nadamos, comemos, brincamos, foi dele a ideia de colocar uma champanhe na neve em Meribel (alpes franceses) para comemorarmos a primeira vez que ele via neve, como também foi dele a ideia de colocar uma lata de cassoulet embaixo da torneira quente enquanto tomávamos banho (não tinha microondas), num hotel de beira de estrada, tipo Ibis. Para depois completarmos o piquenique no quarto com um patê de foie gras comprado em Sarlat, e um bordeaux de Sant Emilion, com alguns macarrons (pequenos biscoitos recheados) e, claro, uma baguete... Meu pai, infelizmente, também já partiu, para sua última viagem.
O terceiro e não menos importante, o meu sogro Antônio Moreira, de Paredes (Portugal), jugueiro (quem faz jugos de madeira para colocar nas costas do boi) que trouxe a minha companheira de vida e de viagem, Lidia, com quem namoro há mais de 34 anos (estou casado há 25). Ele veio para o Brasil sem nada, deixando esposa para tentar a sorte na época da fome em Portugal, época da Guerra Mundial. Aqui trabalhou, lutou, trouxe a esposa, comprou o Bar América, sendo um dos seus primeiros proprietários. Depois abriu o bar Encontro e por último O Rei do Bacalhau: quem, como eu, tem mais de 50 anos, vai se lembrar.
Enfim, viajar não é um simples ir e vir, não é tirar fotos e colocar no Face. Uma viagem começa na alma, no coração, na mente. Por tudo isso, eu tomo a liberdade de me considerar um viajante e não um turista, principalmente pelos professores que tive.
Tento passar tais ensinamentos para meus dois amores e filhas, Helena e Luísa, sendo que a Helena deu seus primeiros passos em Paris, num pequenino apartamento, de um prédio de luxo próximo ao George V, onde um primo de minha sogra era porteiro, o Sr. Amândio. Não preciso de fotos e nem anotações para me lembrar, está tudo gravado em minha mente, os bons e maus momentos, alegrias e tristezas, tudo que uma viagem nos proporciona e que não tem preço, não se mede, não se calcula: se vive.
Concluindo, toda viagem é boa, não importa pra onde, se a Duas Barras para comer um bacalhau, se a Lumiar, Natal, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Porto de Galinhas, Gramado, Ilha do Mel, Curitiba, Paris, Rocamadour, Sarlat, Saint Emilion, Saint Michel, Bruges, Genebra, Colmar, Dunas do Pila, Viaduto de Milau, Honfleur, Treauville, Deauville, Arromanche, Montpelier, Amboise, Londres, Stratford-up-Avon, Edimburgo, Andorra, Monaco, Liechtenstein, Luxemburgo, Porto, Lisboa, Fatima, Albufeira, Sagres, Roma, Pompeia, Herculano, Napoli, Salamanca, Barcelona, Sevilha, Marrocos, Ceuta, Tetouan, Estreito de Gibraltar, Pamplona, Siena, Vaticano, Genova, Florença, Veneza, Austria, Ulm, Fribourg, Freiburg, Amsterdã, Reims, Limoges, Carcassone, etc (ainda faltam muitos por citar e mais ainda por ir).
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